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Como superar uma bad passada?

Jnth7n

Primórdia
Cadastrado
03/09/2012
13
23
34
Estava na minha república, com todos em casa dormindo, havia acabado de acordar, às 2h20m da manhã termino de comer todos os 5g de cubensis secos, era minha segunda experiência, sendo a primeira bastante leve, luzes mais brilhantes, leveza e tranquilidade do corpo, nada muito além disso.
Coloquei um Sargent Pepper dos Beatles pra entrar na viagem. O primeiro efeito que senti foi a leveza do corpo e logo em seguida as luzes se intensificando. Logo apareceu algo novo, de olhos fechados, um ponto bem definido e brilhante aparecia no meio do escuro, e não demorou para conseguir vê-lo também com os olhos abertos. Senti vontade de urinar, estava deitado num sofá em uma sala de frente a uma piscina com um quintal cheio de mato e árvores, e sentia que deveria ir não ao banheiro, mas no mato, e descalço, e foi o que fiz, ao me levantar, percebi que meu senso de equilíbrio não existia mais, não estava tonto, mas pra precisei pensar um pouco pra não cair, literalmente tentando colocar meu centro de massa sobre meus pés, minha noção de profundidade também era nula, não fosse o fato de eu conhecer aonde estava teria sido bem complicado de caminhar. Anteriormente tinha apagado praticamente todas as luzes, chegando lá, no mato, me senti muito bem, como se pertencesse àli, olhei para baixo e vi o pedaço de uma mangueira no chão no formato de um grande sorriso, o que me fez pensar no gato da Alice e melhorou minha vibe.
De volta ao sofá, as alucinações começaram forte, fechava os olhos e via as paredes se mexerem, virarem, entrarem umas nas outras. Ainda com os olhos fechados, quando passava a mão na frente deles, via sua forma colorida. Logo mais, a bad viria, comecei a ficar um pouco impaciente com o tempo em que os efeitos permaneceriam, daí em diante as coisas ficaram cada vez piores, de olhos abertos era impossível focar a visão em algo, de olhos fechados, as mesmas visões de antes estavam intensificadas, mas agora eu via fileiras de formigas como se estivesse vendo por uma tela, e elas estivessem sobre ela, as formigas me apavoravam, foram a representação de tudo de ruim que eu tava sentindo durante a noite, ao comer os cogumelos, acabei comendo um pouco de terra junto, foi horrível, eu quase vomitei na hora, e quando as formigas apareceram, na hora associei a isto.
Nesta hora, minha consciência já era uma coisa fora do normal, eu não sentia dor, me beliscava e não sentia nada, colocava o dedo nos ouvidos e era como se eles alcançassem meu cérebro, resolvi subir para o meu quarto, fiquei deitado um pouco mas senti que devia vomitar, apesar de não sentir nada de ruim em meu estômago, fui ao banheiro e vomitei absurdos, mas fisicamente estava bem, inclusive olhei no espelho e me via super normal, nem minhas pupilas estavam estranhas, voltei ao quarto, e acabei fazendo outras viagens ao banheiro, até que não havia mais nada para vomitar, acabei associando o vomitar a tirar de mim aquilo que estava me fazendo mal, porém, não tinha mais nada pra sair e eu só ficava cada vez pior.
Liguei para minha namorada, ela trabalha de madrugada e sairia as 6h30m, pedi para ela vir pra cá depois do seu turno porque eu não estava bem. Ela não pareceu entender o nível do que estava se passando comigo, mas enquanto conversava com ela, era como se tivesse um link com a realidade, e eu me sentia melhor, então desliguei o telefone, e as coisas voltaram a piorar, nessa hora eu já sentia-me completamente destruído, novamente, não fisicamente, mas como um ser eu tinha sido completamente quebrado, a minha auto percepção era outra, eu me tocava no rosto e novamente era como se chegasse com os dedos em minha mente, a ideia de que isso nunca mais passaria era cada vez mais presente, por outro lado eu sabia que os efeitos passariam com algumas horas, porém, o tempo demorava absurdo pra passar. Ali eu já me sentia numa luta constante e que parecia eterna para sair dessa, e foi muito difícil, eu entendi completamente porque há pessoas que acabam se matando no meio de uma bad trip, por mais que eu soubesse que os efeitos não são pra sempre, não tem como não pensar na possibilidade, nessa hora o medo de morrer não existe, uma vez que eu não estava sentido dor, morrer parecia ser a saída mais tranquila possível, mas eu definitivamente não queria morrer, eu pensava nos meus pais, na minha namorada, na tristeza que isso ia trazer, na tristeza que todo suicídio, mais do que uma morte “normal”, traz, e tudo isso me ajudou a aguentar, não tão firme, mas a aguentar ali o sofrimento que tomava conta de mim, por vezes eu pensei que ia morrer mesmo sem querer, e isso não me assustava, pois cessaria tudo aquilo.
É difícil descrever o que é “tudo aquilo”, minha mente estava a mil, de olhos abertos não conseguia manter o foco, de olhos fechados, as formigas apareciam, além de outros pensamentos ruins, não havia muita escapatória. Peguei meu computador e comecei a procurar algo que pudesse me ajudar, mas era incrível como não achava nada. Nisso eu já havia falado com minha namorada de novo, queria que ela saísse do trabalho naquela hora para me ajudar, mas ela ainda não sabia da gravidade do que eu sentia, e não podia deixar o trabalho, nós chamamos um amigo meu que estava dormindo aqui em casa e ele ficou comigo desde então, mas nem ele conseguia ver algo de ruim acontecendo comigo, nós ficamos então os dois procurando algo para me ajudar, e tudo que ele encontrava era que eu precisava tomar água, e eu realmente estava ficando muito desidratado, então comecei a tomar muita água.
Eu intercalava entre virar e tentar dormir e pegar o pc e procurar ajuda. Tentar dormir era complicado, pois precisava fechar os olhos, minha mente não se acalmava jamais, e apesar de eu ter esperança de acordar bem, tinha a impressão que poderia não mais acordar. Meu amigo dizia não ver nada de mal comigo, que eu estava normal, e eu via que ele não estava tão preocupado assim com meu estado, eu pensei em tentar descrever melhor o que eu sentia, incluindo as ideias suicidas que eu estava enfrentando, mas achei que o seu desespero só pioraria a minha situação e sua calma estava ajudando. Nós já estávamos pensando em ir ao hospital, mas eu estava sem a carteirinha do meu convênio, que era novo, e não sabia se poderia ser atendido. Descobrimos que só meu nome era suficiente, mas nisso já havíamos mandado outro amigo meu que também mora conosco ir comprar carvão ativado, que parecia ser a única coisa que poderia ajudar, e nessa hora eu tava tentando tudo que pudesse ser promissor.
A partir daí eu comecei a melhorar sensivelmente, já me via voltando ao normal, quando meu amigo chegou com o carvão, eu já não queria ir ao hospital, tomei o comprimido, mas já estava bem, e fui melhorando gradativamente, até estar praticamente normal às 6h da manhã.

Durante tudo isso, eu via como estava aprendendo muita coisa, tanto nos momentos bons, quanto nos ruins. Pensei por várias vezes que nunca mais ia conseguir fazer algo do tipo, me arrependi, cogitei jogar fora tudo o que tenho de cubensis, e até do lsd, com que já tenho mais experiência, mas quando voltava ao normal, eu vi como aquilo que se passou foi importante e válido, minha vida não vai ser a mesma daqui pra frente, e nem a forma como me vejo, durante a viagem, a vida e a morte eram como lados da mesma moeda, moeda que eu não sei dizer qual é, mas não era nada como a noção que tinha antes, e o mesmo pode ser dito da forma como eu me vejo. Porém, ainda fica um pouco do medo de que aconteça de novo, foi, com certeza, a situação mais tensa por que passei na vida, me senti sentado ao lado da morte, esperando para ir com ela, e por mais válido que tenha sido, não gostaria de passar por isso de novo, não fosse toda a leitura que já fiz sobre o assunto, que ainda assim se mostrou muito pouco, eu não sei se ainda estaria aqui.
Então como posso lidar para que não aconteça de novo, ou para que eu saiba enfrentar mais tranquilamente quando acontecer?
 
5g é uma dose pesada para um psiconauta iniciante, sugiro ir conhecendo os mágicos aos poucos.
 
Então como posso lidar para que não aconteça de novo, ou para que eu saiba enfrentar mais tranquilamente quando acontecer?
Vira maxo rapaz!
se fugir na primeira vez que tiver uma bad nunca vai ter uma good.
pense um pouco sobre sua vida, sobre as cobranças externas e medite sobre o que voce deseja pra voce mesmo, e o que voce realmente pode atingir com sua vontade.
boa sorte nas proximas.
 
voltar atraz não podemos, mais podemos começar um novo amanhã;)

pense nisso...
 
Vira maxo rapaz!
se fugir na primeira vez que tiver uma bad nunca vai ter uma good.
pense um pouco sobre sua vida, sobre as cobranças externas e medite sobre o que voce deseja pra voce mesmo, e o que voce realmente pode atingir com sua vontade.
boa sorte nas proximas.

Fugir não. A princípio lá no meio até pensei, mas vi que ainda teria várias viagens assim que comecei a voltar. O problema é que fica o receio de que aconteça de novo, e começar outra trip com receio já não é boa coisa. Mais do que fugir de outras bads, quero saber como enfrentá-las e aproveitá-las ao máximo. Penso que quanto mais auto-conhecimento tiver, mais proveitoso será e mais forte ficarei ao passar por elas. Mas outras opiniões de quem é mais experiente são sempre bem vindas!! Reflitirei bastante sobre isso. Muito obrigado!

Acho que deveria olhar nos olhos das formigas e se preciso, deixe que te devorem! Jnth7n :cyclops:

Essa ideia é muito interessante! Na hora elas estavam me deixando apavorados, e eu fiz o que pude pra fugir delas, o pouco que eu conseguia raciocinar ia no sentido de lutar para sobreviver àquilo, mas agora me deu uma baita de uma curiosidade de saber qual era a dessas formigas, hahahah.
 
O melhor jeito de superar uma bad antiga é encarando uma bad nova.

Me pareceu que você não teve uma intensão bem definida antes de encarar a trip.
 
Pense a respeito do que aconteceu, Jnth7n.

E vamos conversando.
 
O melhor jeito de superar uma bad antiga é encarando uma bad nova.

Me pareceu que você não teve uma intensão bem definida antes de encarar a trip.

Eu não tinha, queria ver onde eles me levariam. Estou me mudando da república para um apartamento, e queria aproveitar o último fds lá, aquela casa é um lugar bem interessante de se viajar. =)

Pense a respeito do que aconteceu, Jnth7n.

E vamos conversando.

Estou pensando, não tive muito tempo ainda p/ refletir bem. Anteontem um amigo meu quis experimentar, e eu o acompanhei, "sóbrio" dessa vez, mas meio preocupado que acontecesse o mesmo com ele, ele nunca tinha tomado nada do tipo, mas estávamos em 3 e foi super tranquilo e agradável p/ ele. Acredito que um dos meus maiores erros foi estar sozinho, mas é complicado pois quero uma trip mais introspectiva, e a companhia costuma me guiar para algo mais recreativo.
 
Eu acho que sozinho é melhor.

Mas varia de pessoa a pessoa.
 
Tente não se preocupar tanto com o ambiente externo.

Todas as minhas experiências foram em casa, durante a madrugada e com minha esposa dormindo ao meu lado.
Algumas foram muito divertidas e outras foram só porrada.

Mentalizar seu objetivo e preparar seu ambiente não te dão garantia nenhuma de que a experiência vá correr como desejado, mas fornecem um norte, uma luz. E qualquer luz tem brilho inestimável quando estamos perdidos na escuridão da nossa mente
 
grande experiência, procure mais estudos, experiências de terceiros, vai te fazer sentir mais seguro, mais preparado.
 
Eu acho que sozinho é melhor.

Mas varia de pessoa a pessoa.

Também tenho essa impressão.. mas agora estou mais receoso de tomar sem a companhia de ninguém.. uma coisa que aprendi já no começo dessa trip quando ainda estava bem é que preciso baixar minha bola um pouco, provavelmente não só com cogumelos. Então vou experimentar melhor mais um pouco pra me aventurar depois =)

Tente não se preocupar tanto com o ambiente externo.

Todas as minhas experiências foram em casa, durante a madrugada e com minha esposa dormindo ao meu lado.
Algumas foram muito divertidas e outras foram só porrada.

Mentalizar seu objetivo e preparar seu ambiente não te dão garantia nenhuma de que a experiência vá correr como desejado, mas fornecem um norte, uma luz. E qualquer luz tem brilho inestimável quando estamos perdidos na escuridão da nossa mente

Eu não me preocupo tanto.. mas a casa é bem marcante pra mim, como eu estou me mudando, queria aproveitar uma "última" vez.. apesar de que já avisei meus amigos que voltarei outras vezes.. =p e como morarei num apartamento, e não me garanto do lado de uma janela do 7o andar, provavelmente terei de procurar outros lugares para viajar.. Penso em não mentalizar nada específico também, e deixar que os cogus me levem, o máximo que faço é garantir o máximo que puder que estou bem de espírito para a viagem.

grande experiência, procure mais estudos, experiências de terceiros, vai te fazer sentir mais seguro, mais preparado.

Procuro sempre!! É o melhor estudo.. já li alguns livros sobre o assunto também, do Hoffman e Mckenna, e já tenho outros na lista de leitura :)
 
Procuro sempre!! É o melhor estudo.. já li alguns livros sobre o assunto também, do Hoffman e Mckenna, e já tenho outros na lista de leitura :)

Ótimo, esses livros são uma leitura muito prazerosa, pra quem gosta do assunto:
Alucinações Reais (Mckenna)
O Alimento dos Deuses (Mckenna)
A Erva do Diabo (Castaneda)
Presente da Águia (Castaneda)
Eu venho da floresta (Groisman)
O Livro das Mirações (Alverga)
entre outros...
 
Ótimo, esses livros são uma leitura muito prazerosa, pra quem gosta do assunto:
Alucinações Reais (Mckenna)
O Alimento dos Deuses (Mckenna)
A Erva do Diabo (Castaneda)
Presente da Águia (Castaneda)
Eu venho da floresta (Groisman)
O Livro das Mirações (Alverga)
entre outros...

O Alimento dos Deuses eu já li.. os outros acabei de marcar todos para ler!!
 
Sou nova aqui no CM e já revirei o fórum...Li MUITO!Tive uma bad trip bááásica há 2 semanas,na minha primeira vez.Fiquei boladíssima,claro.Parecia que tinha levado uma surra mental,não foi agradável,fiquei na introspecção por vários dias,ruminando tudo aquilo que vivi, apesar de hoje eu já conseguir tirar licões da experiência.O que estou achando curioso é o fato das trips mal sucedidas serem muuuito parecidas!Aquele lance de achar que está ficando louco,que você não existe,que vai morrer ou que nunca mais vai sair da viagem...Por que será?
 
Bom, ainda não tive trip com os mágicos... mas já venho sempre me preparando, é sempre bom lembrar que tudo o que está acontecendo está dentro da sua mente e que isso não vai lhe afetar físicamente. Sempre tenha calma e espere... encare seus monstros e seus medos e sempre procure tirar sarro com eles (já aconteceu de tomar uma dose muito forte de LSD e ter impressão de que todas as pessoas do mundo estavam me olhando mal, então me fingi de bebado e quando alguem passava perto de mim eu dizia! Boa noite!! Que noite feliz! Vamos comemorar! E outras coisas do tipo até eu perceber que as pessoas estavam rindo de mim e não com raiva nem apavoradas... assim quebrei a bad no meio). Não gosto de viagens pesadas sem pessoas de confiança por perto... elas garantem sua integridade. Ahhh... outra coisa, o escuro me trás pensamentos sombrios (faz sentido né?)... quando sinto isso procuro a claridade e sinto coisas do bem!

Não se traumatize! Aprenda com os erros e cresça! É a lei da natureza... só os mais fortes sobrevivem.

(Posso estar falando besteira... vamos esperar minha primeira Trip! Kkkk e que venha o que os cogumelos quiserem que eu experiencie!!)
 
O que estou achando curioso é o fato das trips mal sucedidas serem muuuito parecidas!Aquele lance de achar que está ficando louco,que você não existe,que vai morrer ou que nunca mais vai sair da viagem...Por que será?


Talvez porque haja medos básicos comuns a todas ou à maioria das pessoas. Esses medos emergem do subconsciente nas bad trips.
 
Por que será?

“Abram bem os olhos e olhem para o Nataraja que está no altar. Observem-no
detalhadamente. Na sua mão superior direita, como vocês já viram, ele segura o tambor que
chama o mundo para a vida, e na sua mão superior esquerda segura o fogo da destruição.
Vida e morte, ordem e desintegração, imparcialmente distribuídas. Agora, olhem para o outro
par de mãos de Xiva. A mão inferior direita está erguida e com a palma voltada para fora.
Qual a significação desse gesto? Ele quer dizer: ‘Não tenha medo, tudo está bem.’ Mas
como pode uma pessoa sensata não ter medo? Como fingir que o mal e o sofrimento sejam
coisas certas, quando a evidência de que são erradas é tão óbvia? Nataraja tem a resposta.
Agora, observem a sua mão inferior esquerda e vejam que com ela está apontando para os
pés. E os pés, que estão fazendo? Olhem com cuidado e verão que com o pé direito ele pisa
numa pequena e repelente figura sub-humana – o demônio, Muyalaka, que, embora sendo
um anão, é dotado de um imenso poder de Malignidade. Muyalaka corporifica a ignorância,
representa a ganância e o egoísmo exagerado. Esmaguem-no, quebrem-lhe as costas!
exatamente isso que Nataraja está fazendo. Esmagando o monstrinho sob o seu pé direito.
Mas notem que não é para o seu pé direito que ele está apontando com o dedo e sim para o
esquerdo. O pé que, no ato de dançar, ele está levantando do chão. E por que aponta para
ele? Por quê? Esse pé erguido, esse desafio dançante à força da gravidade é o símbolo da
libertação, do Moksha, da liberação. Nataraja dança ao mesmo tempo em todos os mundos –
no mundo da física e da química, no mundo da rotina, do demasiadamente humano e,
finalmente, no mundo da Semelhança, da Inteligência, da Luminosidade...”

A ilha, de Aldous Huxley (1962)
 
“Abram bem os olhos e olhem para o Nataraja que está no altar. Observem-no
detalhadamente. Na sua mão superior direita, como vocês já viram, ele segura o tambor que
chama o mundo para a vida, e na sua mão superior esquerda segura o fogo da destruição.
Vida e morte, ordem e desintegração, imparcialmente distribuídas. Agora, olhem para o outro
par de mãos de Xiva. A mão inferior direita está erguida e com a palma voltada para fora.
Qual a significação desse gesto? Ele quer dizer: ‘Não tenha medo, tudo está bem.’ Mas
como pode uma pessoa sensata não ter medo? Como fingir que o mal e o sofrimento sejam
coisas certas, quando a evidência de que são erradas é tão óbvia? Nataraja tem a resposta.
Agora, observem a sua mão inferior esquerda e vejam que com ela está apontando para os
pés. E os pés, que estão fazendo? Olhem com cuidado e verão que com o pé direito ele pisa
numa pequena e repelente figura sub-humana – o demônio, Muyalaka, que, embora sendo
um anão, é dotado de um imenso poder de Malignidade. Muyalaka corporifica a ignorância,
representa a ganância e o egoísmo exagerado. Esmaguem-no, quebrem-lhe as costas!
exatamente isso que Nataraja está fazendo. Esmagando o monstrinho sob o seu pé direito.
Mas notem que não é para o seu pé direito que ele está apontando com o dedo e sim para o
esquerdo. O pé que, no ato de dançar, ele está levantando do chão. E por que aponta para
ele? Por quê? Esse pé erguido, esse desafio dançante à força da gravidade é o símbolo da
libertação, do Moksha, da liberação. Nataraja dança ao mesmo tempo em todos os mundos –
no mundo da física e da química, no mundo da rotina, do demasiadamente humano e,
finalmente, no mundo da Semelhança, da Inteligência, da Luminosidade...”

A ilha, de Aldous Huxley (1962)



Wow! Muito legal, gostei demais!
NatarajaHA.jpg
 
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