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Classificar os efeitos de uma Trip

sankhara

Artífice esporulante
Membro Ativo
10/03/2009
178
80
Lusitania
Amigos,

Muitas vezes quando leio experiencias dos vários usuários fico algo confudo com as descrições dos efeitos da trip sejam eles corporais sensoriais ou visuais auditivos.

Será que é possivel que tenhamos uma linguagem ou um sistema de classificação desses efeitos para que seja mais fácil a compreensão comunicação das várias experiencias?

Por exemplo, podemos fazer em parestesias ou formigueiros quando em Saúde se descrevem sintomas associados a uma lesão de um nervo mas na descrição de uma experiência psicadélica sinto sempre qeu falta uma linguagem comum que descreva as sensações psicadélicas de forma a que todos entendamos.

Oiço falar de "Boddy Buzz", de "Speedy" ... quando querem referir-se aos efeitos...

Deixem a vossa opinião,

Abraço
 
Última edição por um moderador:
Há vários textos por aí com tentativas de classificar os efeitos de alguma forma, mas essa história de "níveis" é bastante incompleta, pois os efeitos além de subjetivos, não se apresentam em uma "escala" como a idéia de níveis propõe...

Além da questão relativa à mesma dosagem ter efeitos muito variados entre indivíduos, os efeitos não ocorrem todos ou ocorrem em ordem diferente da geralmente apresentada.

Há quem diga que tentar classificar a experiência assim é prejudicial, pois prende a atenção do psiconauta a se encaixar num destes "níveis" e ficar tentando alcançá-los durante a trip, ao invés de apenas deixar acontecer.

Esse tipo de classificação também incentiva alguns abusos e causa frustrações por parte daqueles que acreditam não terem alcançado o "nível" que desejam, simplesmente porque não conseguem identificá-los nas próprias experiências.

Muitas vezes, alguém quer efeitos visuais mas nunca consegue tê-los, porque experimenta, por exemplo, uma "morte do ego" ou "conexão com o universo" antes. Ou a pessoa viu um monte de fractais, mas de olhos fechados na própria cabeça, e não sabe o que viu, acha que dormiu e estava sonhando apenas. Ou queria ver as mesmas coisas de olhos abertos, o que em muitos casos é impossível, pois é particular da pessoa.
Então abusa das doses, desenvolve uma tolerência e passa a ver menos ainda, ou pior.


Em termos médicos, há sim termos para os processos fisiológicos que são experimentados, e também psiquiátricos - apenas o vocabulário é que é menos difundido, ou tido como efeitos colaterais (ruins): medos, paranóias, alucinações visuais, delusões, confusão; ansiedade, depressão, hipomania; desrealização, etc.
Os termos médico/psiquiátricos são, naturalmente, referentes a "problemas"; e são muito gerais para descrever as nuances de uma experiência psicodélica como conhecemos.

Os efeitos "bons", e alguns dos ruins, são amplamente conhecidos (empiricamente, por todos que usam), basta ler os diários e relatos de experiências. Mas são termos demais para se agrupá-los de uma forma que não seja uma tarefa árdua.
Se os próprios viajantes, por vezes, mal conseguem expressar o que viram e sentiram durante a trip mais recente, mesmo após semanas do fato...

i.ne..vel

  1. que não pode ser expresso verbalmente
A pensar, deste tema tratam também, se observar, algumas das filosofias orientais... Como no conceito hindu de brahman. Ainda que grande parte dos efeitos seja possível explicar, há coisas que transcendem qualquer descrição.
 
(Malz ae o textao, mas empolguei, hehe)

Ótimas pontuações!

De fato é um vício cultural bastante limitante isso de querer classificar, mensurar, comparar...
E tentar colocar experiências subjetivas em caixinhas pode virar uma grandississima cilada facilmente, hehe

Maaas ao mesmo tempo me passa pela cabeça que diferentes quantidades do cogu proporcionam um acesso a diferentes níveis de consciência, de nossa "parte nao visível" (por falta de palavra melhor... com isso quero dizer tudo aquilo que faz parte da gente, coexiste com/em nosso corpo, mas nao é exatamente material, ou seja, englobaria nossa mente, psique, campo energético, etc).

Diferentes abordagens da psicologia propõem modelos e nomes diferentes para descrever, entender e trabalhar os fenômenos psiquicos... e nesse caso nao é que exista uma classificacao mais verdadeira que a outra, sao apenas ferramentas que nos permitem tangenciar experiencias subjetivas.

Por exemplo, o Jung propõe um modelo em camadas pra falar da psique. A camada mais periferica, nossa "máscara social", a maneira como nos apresentamos ao outro, ele nomeia como "persona"; no meio o "ego", que seria nossa experiência mental, de sentimentos, crenças, atitudes; e na camada mais interna o "self" - que em experiencias psicodelicas pode se tornar muitissimo mais evidente - e que é essa coisa dificil de definir, que é apenas experienciavel, o todo manifesto no uno, é quem observa a si mesmo, a essencia espiritual.

Enfim, pq tô falando disso?

Por enquanto tive poucas experiências com os cogumelos (em breve vou resolver essa questão com meu cultivo lindo). Até agora foi:

- Faço uso das microdoses no dia a dia; - - -- Primeira experiência com macro de 5g secos;
- 1 experiência com 1g

E o que percebi da minha ainda parca experiência foi:

1- Nao importa a dosagem, o cogu vai mexer com todas as suas dimensões (fisicas, psiquicas/energeticas, espirituais)
Maaas me parece que diferentes quantidades afetam mais algumas dessas dimensões que outras.

Por exemplo:

As microdosagens - por não alterarem significativamente a percepção, e por serem mais ligadas à realidade cotidiana - nos permitem trabalhar a consciencia com mais ênfase nas questões que envolvem nossa parte "persona" e "ego", e na nossa maneira de nos relacionarmos (ainda q isso nao esteja separado da nossa parte espiritual, self).

Bastaaante diferente dos 5g que me catapultaram pra fora do meu ego e da realidade comum. Ali sim experimentei niveis de consciência dificeis de expressar... fui pra antes e alem da linguagem, mais proximos do self ou o proprio self... é um território ainda pouco conhecido pra mim (e espero que os cogus me levem pra conhecer cada vez mais dessas terras).

Bastaante diferente do 1g que tomei num dia livre comum, em convivencia com outras pessoas que nao tinham tomado, e que me proporcionou uma experiência incrivel.... minha consciência estava claramente ampliada, beem mais do que com a microdose, mas com os pés no chão.
Ninguem notou que eu tinha tomado cogu, mas tive uma experiência telepatica fortissima confirmada, por exemplo... parecia que eu estava experienciando mais aspectos da realidade do que consigo normalmente.

Claro que sao experiencias minhas, que eu to me baseando no modelo de psique do jung, e que outras pessoas poderiam ter outras percepcoes... mas creio que exista algo como um espectro de consciencia, e que diferentes quantidades de cogus nos transportam para diferentes areas desse espectro...
E se existe um espectro, e os cogus nos permitem tomar consciencia dele, pode haver um padrão (que so se revelaria atraves de muitas observacoes em individuos e situacoes diferentes e com uma analise mais acurada). Da mesma maneira que percebemos que todo ser humano tem um "ego", embora sejam todos diferentes.

A dosagem pra cada pessoa acessar cada dimensao da consciencia certamente varia; e as experiencias e impressoes sobre as experiencias tb... mas saca? Acho que é algo que vale a pena ser observado, e seria lindo se se tornasse um conhecimento sistematizado (que pode ser metodologicamente diferente de querer colocar em caixinhas)

Me propus a tomar 0,5g, 1g, 2g, 3g, 4g algumas vezes pra ver a que dimensoes os cogus me levam... e pra ver se confirmo ou descarto essa ideia do espectro, hehe.

No mais, preciso estudar mais sobre consciencia. Sei que tem mt coisa por ai.
 
Tenho receio de que não tenha sido bastante claro no que queria ver discutido. Não era a minha intensõa procurar classificar as dimensões de uma TRIP, embora considere que o sistema de classificação de 5 estágios foi feliz e é o melhor que temos até agora.

Referia-me aos sintomas fisicos e perceptuais, como por exemplo, e vou tentar dar o meu melhor para ilustrar isso:
- Olhar de falcão - quando tudo fica com imensa nitidez
- Estado de sonho - quando parece que estamos num estado de pré hipnose, sono
- Agitação corporal - quando o corpo parece fervilhar de energia
- imagens caledoscópicas com olhos fechados - um pouco quase como a descrição de Flying Circus de Timothy Learry
- Sensação visuais pulsátil nas formas fisicas como plantas ou outros objectos (na ultima vez era a sensação electrizante visual olhando para o pelo da minha gata)
- Sensações tácteis aumentadas
- Speediness - quando tudo parece extremamente acelarado, pensamento e frequencia cardiaca

... e poderiamos continuar. É uma tentativa de normatizar um pouco as sensaç~eos subjectivas qeu temos e também as objectivas, mas com a tentativa de melhorar a comunicação quando tentamos descrever as experiências.

Não me estou a desculpar, mas a necessidade humana de classificar e ordenar é apenas para ser mais fácil compreender e estudar.
 
Todos esses exemplos de efeitos que você descreveu eu é claro já experimentei, alguns são bem fáceis de descrever - como as imagens caleidoscópicas, embora eu veja fractais, não caleidoscópios (são coisas diferentes). A nitidez por exemplo eu chamo de "super visão" que às vezes, ou até com mais frequência no caso de cogumelos, se torna "visão em 3D" - imagens bidimensionais saltam da folha / tela / céu, ou mesmo da pele e qualquer outro objeto. Acho que qualquer que seja o termo, quem já experimentou essas coisas, vai saber do que se trata...

Pode ser interessante fazer uma listagem compreensiva, mas creio que para os mesmos efeitos, seja difícil chegar num consenso de um único nome para as coisas. Termos médico-científicos para essas experiências, tenho quase certeza que não existem. E os tais efeitos parecerão coisas diferentes para pessoas diferentes.

Numa trip de cogumelos especialmente, para mim os nomes das coisas se confundem. Em alguns casos, eu sei que o nome existe e lembro dele na trip, muito claramente, em absoluto, mas não consigo pronunciá-lo, ou mesmo escrevê-lo, porque é uma palavra que não tem som ou sílabas, apenas significado. Entende? :atrapalhado: Isso, é claro, é mais um desses efeitos da trip, para os quais eu não consigo achar um nome... :LOL:


Quando comecei a usar cogumelos, tive o mesmo ímpeto, pois em uma das minhas visões eu vislumbrei um espectro de efeitos para a experiência psicodélica, como o das cores. Vê, acho que mesmo essa coisa de querer classificar, em si própria é um efeito da experiência... :huh:
Mas algumas trips depois isso deixou de fazer sentido, e o tal ímpeto - ou melhor, a necessidade - se foi, pois compreendi (para mim) que seria como tentar entender o Big Bang. Cheguei a tomar algumas notas, fiz alguns rabiscos, mas a vontade é volátil, e não havendo uma razão maior, deixei para lá. Vou pintar quadros disso algum dia.


Se quer mesmo se aventurar a tal, talvez seja mais fácil começar listando os efeitos por órgão sensorial e/ou sistema fisiológico, isto é, efeitos visuais, tácteis, de paladar, cardiovasculares, etc. Apenas em efeitos visuais, é possível descrever uma dúzia de sensações diferentes, sem contar a sinestesia.

Por exemplo, de midríase a ver as coisas "respirando", espiralando, derretendo, etc (ainda de olhos abertos), até "enxergar" fractais, memórias, situações completas, ou até mesmo a própria alma, sem para isso utilizar os olhos... Cada um dos sentidos é uma fonte muito rica de experiências variadas, e por vezes os sentidos e experiências se confundem e se fundem com os efeitos fisiológicos, como você descreve exemplificou em em agitação corporal e frequência cardíaca.

Nesse caso creio que seja útil conhecer um pouco de medicina, principalmente neurologia e psiquiatria, :ler: pois algumas das sensações experimentadas por vezes decorrem de uma sensação de ordem psíquica ou fisiológica, como ansiedade ou hipoglicemia. Uma sensação de pulsação, frio, calor, uma gota de suor escorrendo, um barulho, a própria respiração, ou mesmo dor, durante a trip pode ser interpretada de várias formas, que vão de efeitos visuais, tácteis ou auditivos, ao inefável.


É sim um trabalho bastante tentador, como escrever os próprios relatos - mas difícil de conduzir sem se perder pelo caminho. Eu vejo nisso uma tarefa comparável a escrever um artigo científico, em grau de pesquisa e complexidade, ainda que sem o mesmo rigor. E principalmente, razão. ■
 
Sensações que pensei agora.

Afeição irresistível por todas as coisas do universo. Vontade de sair abraçando o Mundo, aos pratos/gargalhadas advindos da mais profunda felicidade.

Quando cada e todo objeto físico no campo visual adquire uma espécie de aura divina/sagrada, tornando-se detentor de uma inefável verdade universal.

Sentimento expontâneo de comunhão com o universo/mundo/civilização.

Sentimento de que seres da natureza (mesmo que inanimados) têm consciência e estão se comunicando em uma linguagem complexa e inefável.

Sentimentos de afeição/amor pela vida em suas manifestações na natureza. Sensação de pertencimento à teia da vida

Sensação de que coincidências passam a ter um significado íntimo relacionado com o presente.

Auscutação/visualização da própria estrutura fisiológica (fluxo sanguíneo, ritmo cardíaco, sinapses).

[edit: sentimento oceânico em diante
edit 2: possíveis neologismos
Edit 3: retirada de termos]
 
Última edição:
Tens toda a razão Salaam,

A tua resposta fez-me pensar no porque de querer classificar algumas sensações e alguns eventos da trip. Queria poder conversar melhor sobre as experiencias com outros mas também colmatar a falta que faz não poder levar para uma trip uma máquina fotográfica.

A experiência é muito pessoal e por vezes mais emocional do que intelectual.

Começo a pensar que as denominações irão surgir espontaneamente á medida que relatamos as nossas experiências. Sejam pela repetição de termos, como também pela aceitação e uso dos mesmos termos por outros Psiconáutas.
 
A experiência é muito pessoal e por vezes mais emocional do que intelectual.
Não vejo problema nisso. A subjetividade pode ser analisada e passar por escrutinio racional.

Creio que seja um tópico interessante e positivo. A descrição da mesma experiencia compartilhada pode levar a diferentes entendimentos, já que a capacidade linguistica dos individuos é muito diversa.

"O mapa não é o território" mas pode nos conduzir a novos territórios.
 
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