A mais de um ano que venho tentando encontrar amanitas, porém sempre obtive experiências frustradas.. Nunca apareceram para mim.
Sexta feira fui na maior plantação de pinus do estado do paraná com a namorada. Ao lado da usina de salto osório... E não achei nada, nenhum
amanita.. O clima estava perfeito e não encontrei..
Ai pensei: Se não tem aqui, talvez não tenha em lugar nenhum.. Já estava começando a pensar que talvez elas nem existissem. Estava desanimado, pensei comigo: "Bom.. se elas realmente existem então que apareçam algum dia em minha vida!"
Quando voltei meus amigos falaram que foram em um certo lugar (lugar que não irei revelar hehe) e encontraram várias.. várias.. Colheram 42 chapéus (um décimo do que viram segundo eles)...
Muito bem, no dia seguinte acordo com uma forte disposição e planto 14 mudas de pinus no terreno da minha avó (mudas que trouxe de salto osório). Isso já era quase meio-dia e eu ainda não tinha comida nada. Depois de plantar os pinus senti uma forte presença mágica, eu precisava cair na estrada.. Liguei para meus amigos para saber aonde era o lugar e nenhum deles atendeu. Eu só sabia o nome da cidade de onde eles acharam os amanitas nas redondezas...
Mas eu não podia mais esperar.. eu tinha que sair de casa, precisava cair na estrada.. Porém, ninguém poderia saber que eu iria fazer isso.. Peguei o carro da minha mãe sem ela saber, abasteci 50 reais de gasolina e ao som de Free Bird cai na estrada... sozinho. Não levei nada comigo, não pensei em levar algo para colocar as amanitas, nada.. fui até mesmo com o "pijama" com o qual eu estava dormindo na noite.
O dia estava lindo, céu completamente azul, sem nenhuma nuvem... Muitas vezes a luz do sol me ofuscou e eu pensei que estava saindo da pista.. Foda-se pensei, se tenho que morrer sei que não será hoje...
Andando pouco mais que 40 quilometros avistei uns pinus a direita e passei sem dar muita importância, logo a frente resolvi dar a volta e ver melhor o local.. O lugar era lindo mas não tinha amanita nenhum... Foi ai que eu percebi que o que me levou ali não foram a probabilidade de existir amanitas, mas sim uma árvore GIGANTE de pinus.. Enorme.. Seria necessário 3 homens para abraça-la.. seus galhos iam para todos os lados.. Era um espírito muito poderoso ali na minha frente.. Senti o awen fluir.. Me ajoelhei diante dela como demonstração de respeito e segui meu caminho..
Pouco mais adiante avistei uma montanha coberta por uma plantação de pinus... Passei por ela pensando em que ela estava muito longe da rodovia mas logo a frente fiz a volta e resolvi dar uma olhada.. Tive que abandonar o carro em uma estradinha de uma propriedade e andar um quilometro a pé por umas colinas cobertas de aveias de um verde brilhante... Estava com fome pois não tinha comido nada desde o momento em que acordei então resolvi comer um pouco da aveia que tinha ali... (Não o grão, as folhas que são usadas de pasto para o gado) e estava uma delícia (doce).. Cheguei nos pinus finalmente e comecei a andar montanha a cima.. Nada de amanitas, porém quando eu estava na metade da montanha não se tratava mais de amanitas e sim de subir a montanha.. Geralmente na minha infância eu nunca chegava até o fim nas coisas que eu ia fazer (cursos de musica, idiomas, etc).. muitas vezes eu pensei em desistir de subir o morro e voltar para o carro, porém falei para mim mesmo: "desta vez você vai até o fim".. Lembrei do meu pai falando que o problema era que eu nunca terminava o que eu começava e por isso eu nunca conseguia nada...
Foi isso que me fez subir toda a montanha e lá de cima tive uma vista incrível.. Acho que era a montanha mais alta das redondensas pois eu podia ver por cima das outras ao redor.. Novamente, senti o awen.
Achei um carreiro lá encima feito por alguém e o segui por um tempo, quando vi que já tinha andado muito resolvi descer a montanha.. Eu estava de tenis (coisa que nunca faço, sempre estou de coturno) e isso contribuiu com a palha do pinus para eu descer deslizando (caindo) uma boa parte da descida.. Desci por uns lugar onde eu nunca entraria pois iria deduzir com certeza que ali era um ninho de cobra.. Ai pensei que deveria ter trazido Específico Pessoa para o caso de ser picado por uma cobra e novamente pensei: Foda-se, se for pra morrer então morrerei...
Quando sai da floresta de pinus percebi que não estava mais a um quilometro do carro, mas sim o triplo disso..
Enfim.. Voltei para o carro e decidi seguir em direção a cidade que me falaram.. Isso já era umas 3 da tarde.. Pedi informação para um guarda de como chegar em tal cidade e fui em frente...
Já não estava mais tão animado, mas ainda sentia a presença das vermelhinhas me chamando.. Então fui em frente.
Quando cheguei na cidade, não consegui ver nenhuma plantação de pinus ao redor, vi algo a esquerda mas não tinha certeza se eram pinus, guiei o carro para lá e percebi que eram eucaliptos. Porém, percebi tarde demais, já estava em meio a uma pequena favela.. o lixo se acumulava nas calçadas, a rua era de terra e cascalho.. raspei o carro incontáveis vezes nas pedras, vi cenas desagradáveis de pessoas vivendo na miséria e quando finalmente consegui voltar para a avenida principal da cidade, percebi que a "presença amanitica" não estava mais ali e só queria sair daquele lugar.. só queria ir embora dali.. E foi isso que eu fiz, o desanimo por não ter mais esperanças era enorme.. enorme..
Foi então que ao sair da cidade e andar um ou dois quilometros pela rodovia (agora voltando), avistei uns pinus a direita.. pinus que não tinha visto antes pois estava vindo no sentido contrário.. E pude ver uma estrada bem a minha frente que me levava em direção a eles.. Foi então que a presença voltou e sem perceber eu meti o carro naquela estrada de terra.. Sem passar despercebidamente dessa vez..
Estava andando com o carro na estrada, vários carros vinham no sentido contrário, imaginei que poderia ter algum clube, algo do tipo mais pra frente.. Começou a aparecer pinus a minha esquerda e logo logo eu estava andando no meio de uma pequena plantação.. Foi quando, minha visão periférica detectou algo vermelho encima de algo branco.. A freiada foi brusca, eu não tinha certeza se realmente tinha visto aquilo.. engatei a ré e voltei.. Foi então que vi ali a espécie mais bela da minha vida.. Uma pequena amanita, na metade de sua vida, linda, com seus pinguinhos brancos, perfeita.. mais bela que em todas as fotos de amanitas que eu já havia visto.. desci do carro e caminhei em direção a ela.. a emoção era enorme.. me senti uma criança indo em direção a um doce, não via nada ao meu redor.. quando me aproximei dela e vi que aquilo era real, senti o awen fluir de uma forma fantástica, senti todo o amor do mundo ali presente entre eu e ela, subi o barranco de um metro e meio aproximadamente onde ela estava e rolei por baixo de uma cerca de arame farpado, logo encontrei outra mais a frente.. e outro mais ali a esquerda.. logo começei a achar várias, eu estava muito feliz.. Colhi 3 chapéus bem velhinhos já e voltei para o carro, ajeitei elas no banco do carona e segui em frente.. Foi quando a visão periférica denovo detectou algo (eu não tinha andado nem 5 metros).. Era um gavião-carijó, preso no arame farpado, morto.. parei o carro, dei a ré e desci.. Fiquei muito comovido por ver que ele provavelmente estava voando livremente quando enroscou a garganta em um arame farpado e ficou ali preso agonizando até morrer naquele arame colocado ali por um humano sujo... Fiquei com vontade de tirar o seu corpo dali e de aconchega-lo ao pé de uma árvore, porém o arame estava enfiado até a metade do pescoço, não teria como tira-lo dai sem arrancar a sua cabeça que já estava sem olhos.. Ele estava com a asa direita levantada como se estivesse lhe cumprimentando, com a asa esquerda abaixada ao avesso e com a cabeça levantada, olhando para o sol..
Tentei tirar uma pena para levar comigo e pensei em quanto fazia isso: Irei levar essa pena para sempre.. Porém a pena não saiu e então como se algo me atraísse, meus olhos correram para as suas garras e eu as tirei enquanto falava: Espero que tenha ido para um lugar melhor meu amigo, onde possa voar sem se preocupar com cercas fantasmas.. (não sei porque falei isso: cercas fantasmas)
Voltei para o carro e segui em frente, parei várias vezes e encontrei várias outras amanitas, Estava o tempo todo andando sem camisa no meio da plantação, com os braços aberto e falando "obrigado, obrigado".. O mais impressionante de tudo isso era que sempre que eu agradecia, aparecia uma nova amanita ao meu lado, a minha frente, a menos de um metro. Acho que isso aconteceu no mínimo umas 4 vezes.
Voltei para o carro novamente e fui mais a dentro da floresta pela estrada, vários carros e motos passavam por mim e pelas amanitas, eu não me sentia mais sozinho, sabia que tinha duendes e gnomos junto comigo, sabia que estava iluminado.. Fiquei abismado com tantas pessoas passando por aquela estrada e nenhuma parando um momento se quer para contemplar as amanitas na beira da estrada, algumas até próximas dos pneus dos carros. Mais a frente, percebi que a um bom tempo que eu não encontrava mais amanitas e voltei para a estrada.. Ai olhei para a esquerda e vi que ali havia uma uma colinazinha onde havia sido plantado aveia.. O sol fazia aquela aveia queimar de verde.. Tinha vacas ali pastando, e uma delas era malhada, e por algum motivo que não sei qual, ela estava olhando para mim com a cabeça virada para trás.. IDENTICO a capa do disco do Pink Floyd.. Foi o que pensei na hora.. que aquilo poderia enganar alguém se uma foto fosse tirada e revelada.. Certamente aquilo era a vaca do Pink Floyd...
Eu sabia que eu tinha que tocar naquela vaca, sabia que eu fizesse isso eu iria achar mais amanitas.. E foi o que eu fiz.. pulei a cerca.. me aproximei lentamente de braços abertos falando o tempo todo para ela: "não tenha medo, venho em paz, sou seu amigo, amo você e suas companheiras".. Me aproximei dela e colhi um punhado de aveia e estendi para ela comer.. Ela comeu a comida da minha mão e eu toquei em sua barriga que parecia estar prenha... Pois estava muito grande.. Logo depois disso um touro apareceu no alto da colina e eu me retirei sabendo que aquilo ali era um território onde um espírito mais poderoso que o meu já era dono.. Voltei para o carro, feliz por ter passado a mão na vaca e a alimentado.. Coloquei meu CD de musicas celtas e quando começou a tocar Dark Moon, High Tide, arranquei o carro, foi quando, novamente... minha visão periférica acusou pontos vermelhos a esquerda.. Parei o carro novamente, não acreditando que aquilo estava acontecendo.. Eu tinha vasculhado aquela área.. como não as tinha visto antes?
Desci do carro que ficou com a janela aberta e ao som dessa linda música colhi uma amanita.. Porém, nesse exato momento percebi que como eu tava tirando algo da floresta, eu deveria dar algo a ela.. Procurei em meus bolsos e não achei nada que seria útil para a floresta, eu já sabia o que deveria ser feito.. Peguei a faca de meu pai que sempre levo comigo presa a perna e cortei minha mão esquerda, a dor que saiu do corte foi mágica.. O sangue que dali escorreu eu usei para passar no cabo das amanitas que eu tinha colhido e também no chapéu das que pequenas que eu tinha deixado para ali crescerem.. Depois lambi o sangue de minha mão e passei na minha cara, em baixo dos olhos..
Voltei para o carro e pensei: "Já obtive tudo o que precisava, está na hora de ir para casa"... Voltando pela estrada me deparo novamente com o gavião-carijó preso no arame.. A sua asa direita levantada não parecia estar dizendo até logo mas sim: Venha, entre. Novamente parei o carro, pulei a certa e começei a andar pelos pinus, não achei mais amanita algum, o sol estava se pondo e estava meio difícil ver algo.. Quando lá a frente vi um cachorrinho cinza bem peludinho, que estava parado. Aquele pensamento automático do tipo "será que eu vou lá? esta tarde e tenho que ir embora". Enfim.. deixei meus pés me guiarem e fui até ele.. Ao me aproximar não era mais um cachorro e sim uma pata com seus patinhos.. Logo não era mais isso e sim um galho com folhas.. Um galho de alguma árvore qualquer, menos de pinus.. Porém, só tinha pinus ao redor.. Ao lado desse galho vi um montinho de palha de pinus e decidi ver o que tinha ali embaixo.. aparentemente não parecia ter nada, pois tinha muita palha encima.. Então, derrepente, um ser vermelho aparece la embaixo.. Nossa, como era grande.. O maior de todos.. enorme.. Senti o corpo todo se iluminar internamente, por mais escuro que a tarde estava ficando, tudo estava muito claro ali. Colhi esse último amanita, porém o sangue de minha mão já estava seco e não parecia ter mérito em cortar a outra.. Então, deixei minha marica de bambu (de fumar cannabis) para ela, e cobri o talo com palha de pinus..
Estava na hora de ir, e ao pular a cerca, finalmente o falcão disse adeus.. Acredito que ele não estará mais lá quando eu voltar em outro dia. Provavelmente seu lindo corpo já estará decomposto...
Dei um grito de guerra ao falcão: "WRAH", como se eu estivesse pagando muito pau para ele.. do tipo: Porra.. você é muito foda meu amigo.. Dei uma última olhada na pequena amanita na beira da estrada (a primeira que apareceu para mim) e lhe desejei vida eterna.
Acreditem.. viajar com amanitas no banco do carona é melhor do que qualquer companhia.. Colhi 14 chapéus (o mesmo número de pinus que plantei na manha do mesmo dia, agora que me dei conta disso) e nesse momento eles estão secando.
Foi o dia mais belo da minha vida até então... Me senti extremamente realizado e ainda me sinto.
Minha namorada ficou braba e triste pois eu tinha falado para nós nos vermos e ai eu sumi sem dar explicação para ninguém. Minha mãe ficou assustada quando viu o sangue na minha cara.. Sangue esse que eu não lavei, dormi com ele e no outro dia acordei com a cara limpa.. Não sei como, mas não achei marca de sangue em nenhum lugar de minha cama..
Bom pessoal.. Desculpa por ter postado tudo isso nesse tópico, mas é que pra mim tudo isso foi muito bom e senti vontade de compartilhar com vocês.
Meu projeto agora é tatuar aquele lindo gavião em meu corpo. Eu sei que nunca vou esquecer desse dia, mas desse modo, além de ele viver na minha história, vai poder viver na imaginação das pessoas quando me perguntarem: Ué, cada as garras dele? E eu as mostrarei.
É isso ai.. Esse foi meu primeiro encontro com os amanitas, descrito detalhadamente..
Dia em que eles me encontraram: 14 de junho de 2009
Um abraço!