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A Cura (xp 83 e 85)

ExPoro

Enteogenista Apaixonado pela Vida
Cultivador confiável
14/04/2015
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Xp 83 - A Cura​


Afastado do serviço em 2017 por doença do trabalho, desde 2018 venho pincelando em meus relatos o caminho para me tratar de pânico e psicose causados por meu ambiente de trabalho. O relato O Começo de uma árdua Cura? (xp 60) em especial destaca o aprofundamento desse esforço de cura enteogênica, pois em 2020 aprofundei os trabalhos com psilocibina em meu tratamento.

Como resultado, alcancei, há 3 meses atrás, no final de Maio, a cura dos sintomas psicóticos que acompanham meu quadro de pânico. Também, desde 2021, já sentia que os sintomas do pânico em si já tinham sido reduzidos drasticamente com a imersão enteogênica de 2020 para lidar com o rancor. Estabeleci uma das bases do meu sistema moral de perdão e seguir em frente (Pagar o Mal com o Mal ou fazer o Bem? (xp 61)), que passou a se aplicar a todas as pessoas na minha vida, e não apenas aos que me fizeram tanto mal no trabalho.

Esta experiência em si, que considero bem "água com açúcar" (sem grandes efeitos nem imersão), foi entretando o suficiente para jogar a última pá de cal sobre a questão dos pensamentos intrusivos de violência, rancor, loopings de diálogos corrosivos do passado, etc. Simplesmente, naquela semana, alguns dias depois, quando fui me reavaliar pra possível retorno ao serviço ou não, me sentia limpo. Mas tive que me manter longe ainda por uma questão de como ainda reajo às pessoas e coisas. Como disse aos médicos, é como se eu fosse "de vidro" no sentido emocional, com explosões súbidas e reações irascíveis. O lado expontâneo da doença tinha sumido, mas ainda se mostrava quando provocado. E, ainda que sob condições econômicas aviltantes com a redução a 20% do que eu recebia antes por corrupção da junta médica (quem quiser mais detalhes: Chá de 1 Ano na Geladeira faz Efeito? / Ódio, muito Ódio (xp 79)), quis me manter em tratamento sem retornar aos quadros públicos.

Isso tudo é um passo enorme. Cuido hoje das rebarbas, dos recantos do que antes era puro lodo espiritual. O que antes era uma possibilidade, a cura, agora se torna realidade. Em 2020, vi meus pensamentos intrusivos sumirem. Em 2022, terminei o caminho do perdão. Estou funcional novamente. Graças ao cogumelo, pois as medicações tradicionais apenas tratavam os efeitos. Inclusive, quem me acompanha sabe que desde 2020 retirei um medicamento e reduzi em 75% meu antidepressivo (sertralina) para apenas 0,25 mg/dia.

Maaaaaaaaaaaaaaas, que fique claro. Meu tratamento envolve nesses anos todos acompanhamento por psiquiatra e psicólogo. Não foi apenas o cogumelo. E não foi "automático", foram anos e dezenas de imersões com intenção de busca de perdão e cura.

E ao fim da experiência 83, cheguei finalmente à conclusão: "agora que eu perdoei a todos, que não tenho sintomas inabilitantes e estou a um passo de me curar, preciso olhar pra mim mesmo e encontrar a seguinte e complexa resposta: POR QUE DIABOS EU SURTEI? Não se trata aqui de dizer "ah, porque quase te mataram" ou etc., mas porque eu não fui melhor um pouco, porque eu não tive fé, porque eu tinha ódio, o que tava dentro de mim, o que eu vivia naquela época, o que é diferente de hoje, e por ai vai.

Eu já sei a responsabilidade das outras pessoas sobre a minha doença, agora é hora de saber a minha própria responsabilidade sobre ela.

E assim comecei a caminhar pras próximas experiências.


Experiência 85​

Bem, assistindo Medo & Delírio em Las Vegas pela 43ª vez, não aguentei de poder voltar a ver o filme com boa qualidade de imagem (o filme voltou ao catálogo da Netflix, que tinha saído desde 2016) e me inspirei a tomar cogumelo de madrugada. Era o dia de fazer mesmo. A dose seria quase 40 gramas frescas de um chá. Tomei, não consegui assistir 20 minutos, claro!

Entrei em delírio kkk.

E as questões que vieram foram da minha vida presente. As dificuldades financeiras, a perda de minha amada vozinha nessa semana que passou, as saudades, como ser melhor com minha esposa, como entender melhor os sentimentos dela de perda também ou tristeza, reduzir a erva, ajeitar a vida um pouco.

Mas basicamente, queria que o cogumelo viesse à minha alma pra me iluminar nesse momento de perda, que significa o começo de uma nova caminhada e construção de novos caminhos familiares.

Tudo acontece quando tem que acontecer. No último dia dela no hospital, disse a ela tudo que queria dizer, de gratidão de como ela salvou minha vida quando era criança me tornando um ser humano normal... muito amor.

E ao longo desses meses sem cogumelo, tenho adicionado ao meu set (minha mente) um material de autoanálise sobre mim, como sou, como era, meus erros e acertos do passado, na autocrítica do meu lado em ter me "deixado" adoecer. Mas vejam bem! Não me "culpo", porque fui levado ao surto por outros. Mas quero saber porque eu me deixei levar, como poderia eu ser mais elevado espiritualmente pra isso não se repita no futuro.

Descobri alguns elementos-chaves devagar, mas o quadro ainda não é completo.

Durante a experiência, contudo, não elaborei nem tive nenhum insight desse aspecto, por tudo que ocorre na minha vida em volta.

Mas... saí com uma sensação de que, devagar, eu esteja deixando de ser "de vidro" para voltar a ser "de carne", a caminho de me sentir confortável para poder reingressar no convívio social de um ambiente de trabalho. Agora, claro, em outra lotação, em outro lugar, bem longe de onde adoeci.

...

Deus-Deusa sabe o que faz. São quase 5 anos pra chegar nesse grau de cura. E isso com cogumelo. Mesmo eu retornando ao serviço, sou outra pessoa. Revisitei meus sonhos, minha vontade de progredir. Saí da zona de conforto de já ter passado em um concurso para entender que parte do que me afligia também era não seguir em frente para algo que eu realmente amasse e tivesse mais a "minha cara", como um concurso jurídico.

Enfim... obrigado a todos e vamos melhorando. :)


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Edit: "Existirá / E toda raça então experimentará / Para todo mal, a cura" (A Cura, de Lulu Santos) ==> é o cogumelo!!! rsrs
 
Última edição:
Muito bom dia, sempre muito bom ouvir relatos de cura.
Esse final de semana, na madrugada de sábado para domingo participei de um trabalho coletivo com enteógenos (cerimônia tradicional do povo Huni Kuin), onde, ao amanhecer, todos relataram suas experiências, chegar no trabalho e ler teu relato me fez sentir a continuação daquele momento.
Obrigado por compartilhar.
 
(...)desde 2018 venho pincelando em meus relatos o caminho para me tratar de pânico (...) alcancei, há 3 meses atrás, no final de Maio, a cura dos sintomas psicóticos que acompanham meu quadro de pânico. Também, desde 2021, já sentia que os sintomas do pânico em si já tinham sido reduzidos drasticamente com a imersão enteogênica de 2020 para lidar com o rancor.
Esse também é um dos meus objetivos. Ainda não obtive sucesso, infelizmente.

Esta experiência em si, que considero bem "água com açúcar" (sem grandes efeitos nem imersão), foi entretando o suficiente para jogar a última pá de cal sobre a questão dos pensamentos intrusivos de violência, rancor, loopings de diálogos corrosivos do passado, etc
Vou ler todos os seus relatos pra tentar entender esses seus pensamentos negativos... Me parecem bastante perturbadores.

Maaaaaaaaaaaaaaas, que fique claro. Meu tratamento envolve nesses anos todos acompanhamento por psiquiatra e psicólogo. Não foi apenas o cogumelo. E não foi "automático", foram anos e dezenas de imersões com intenção de busca de perdão e cura
De alguma forma, acha que teria sido possível somente com os cogumelos, com algo como uma auto-psicoterapia/psicanálise?

E ao longo desses meses sem cogumelo, tenho adicionado ao meu set (minha mente) um material de autoanálise sobre mim, como sou, como era, meus erros e acertos do passado, na autocrítica do meu lado em ter me "deixado" adoecer. Mas vejam bem! Não me "culpo", porque fui levado ao surto por outros.
"Ter se deixado adoecer"... Acho que esse trecho diz muito sobre muita coisa que passou. Imagino cada tijolo que foi colocando sobre os ombros até o momento em que não aguentou o peso. Imagino que o grau de cobrança que você faz (ou fazia) a si próprio é algo desumano.



pensamentos intrusivos de violência, rancor, loopings de diálogos corrosivos do passado, etc.
Fiquei realmente curioso com a sua história e com esses pensamentos. Deve ter acontecido algo grave no seu trabalho.

Imagino que já tenha descrito os passos desde o início dos seus "transtornos" psicológicos até ao que conseguiu elaborar até agora.
Não sei se já fez, mas acho que seria de ajuda para muita gente se conseguisse fazer um apanhado e relatar.
 
Fico feliz com a amável resposta, @Armando Ramos. :)

De alguma forma, acha que teria sido possível somente com os cogumelos, com algo como uma auto-psicoterapia/psicanálise?

Sim, acho que sim. Só não seria a melhor forma, por se tratar de um quadro grave. No geral, antes disso, melhorava muitos aspectos da minha vida - vícios inclusive - sem ter o apoio. Mas o adoencimento foi tão grande, que parei com os cogumelos durante os primeiros meses, e só voltei a tomar depois de liberado pelo médico.

Tem um relato central neste aspecto: o cogumelo cura tudo, o que também inclui te orientar a ir pro médico buscar tratamento quando ele mesmo é insuficiente: Bailado dos Urubus (xp 42 a 49)

Este relato é feito depois de um lapso de mais de um ano sem relatos, já tendo começado o tratamento e já afastado do trabalho.

Vou ler todos os seus relatos pra tentar entender esses seus pensamentos negativos... Me parecem bastante perturbadores

Sim, eles eram. Como no parkinson a pessoa não controla as mãos e não consegue se mover direito, por anos eu não controlava pensamentos e sensações, e não conseguia nem estudar por tanta adrenalina 24h no meu sistema nervoso... A melhora começou com o caminho do perdão iniciado com a primeira experiência em 2018, após 6 meses das medicações e liberado pelo médico pra retomar minha atividade religiosa com os cogumelos.

Os medicamentos fizeram com que meu corpo parasse de parecer que tinha um leão na minha frente, mas a minha mente ainda estava fora de mim. Após essa imersão, consegui sair do loop profundo apesar de ainda manter os pensamentos intrusivos de violência. Ainda permanecia agressivo, irascível, sem muita noção de mim e do meu corpo. Longe de ser produtivo, mas tive um primeiro baque de melhoria.

Não sei se já fez, mas acho que seria de ajuda para muita gente se conseguisse fazer um apanhado e relatar

Beleza. :D

Segue então:

Estes são todos os relatos até o presente, em que já havia sido afastado do serviço e iniciado meu tratamento espiritual com os meninos santos. Ao longo deles fica esparso tudo. Mas eu diria assim...

Com 6 meses de tratamento com medicação tradicional, a psilocibina em enteogenia deu uma freiada no grau do surto, no aspecto psicótico. Pensamentos intrusivos reduziram à metade. Explosões e busca de brigas com estranhos na rua reduziram.

As melhorias com as imersões de 2018 foram suficientes para que eu retirasse a medicação antipsicótica, que me incomodava muito de noite, devido ao sono forçado que induzia. Em pouco mais de um a um ano e meio foi retirado o antipsicótico.

Mas apenas com 2 anos e meio de tratamento que comecei a cogitar a redução de outra medicação, o antidepressivo. Isso já fica relatado a partir das experiências de 2020 ou final de 2019. Em 2019 fiz uma pausa nas imersões, que retomei com força total em 2020. Mas a tolerância do antidepressivo estava me atrapalhando de ter efeitos enteogênicos do tipo "ressignificar situações de vida", não conseguia ir fundo. O médico autorizou reduzir à metade o antidepressivo pra que eu pudesse praticar minha religião com mais profundidade. Felizmente, não senti baque da redução.

Já com 3 anos de tratamento pude sentir, após vários meses, o aumento dos efeitos capazes de gerar cura com psilocibina, com a redução da tolerância cruzada. Isso me ajudou muito em 2020, muito mesmo.

No quarto ano de tratamento, resolvi não tomar cogumelo. Seria um ano de reintegração das novas significações de amor e perdão que tinha conquistado em 2020, das melhorias que tinha que fazer. Cristalizar, enfim, e verificar junto com as medicações que vinha tomando o quanto eu estava estável, sem precisar da psilocibina pro meu progresso se manter.

Finalmente com quase 5 anos de tratamento, fui forçado a uma reentrada nas imersões pra um esforço extra de perdão, no primeiro relato deste ano (Ódio, muito Ódio, link acima). Nesta altura, os efeitos psicológicos e de ressignificação e limpeza da psilocibina já estavam muito mais realçados com o ano que passou com a medicação já reduzida. Isso me possibilitou um trabalho bem mais intenso em menos sessões, a ponto de declarar, no relato no topo desta página, a Cura a ponto de que já posso começar a caminhar de volta a me reabilitar ao serviço e à vida. :D

Ficou bom assim?

Ao longo de um dos relatos, houve muito debate sobre povo achando que pode largar antidepressivo, mas eu nunca estimulei isso, nem quis fazer da minha caminhada exemplo pra ninguém! Meu caso é meu caso, e tudo foi feito com o médico de olho, nada sem ele saber e autorizar. Esses relatos todos acima podem ser chamados de meu período mais negro espiritualmente desde que entrei no fórum. Estou na saída desse período, e às vezes é tudo mais negro antes do amanhecer. Mas eu chego lá, sim, chego sim. :)

Abraços!
 
Ficou bom assim?
Bom não, ficou perfeito!

Posso lhe chamar no privado?
Acho que a sua experiência pode me ajudar em alguns aspectos de problemas parecidos...
Talvez possa me dar alguns conselhos sobre como utilizou, etc
 
Bom não, ficou perfeito!

Posso lhe chamar no privado?
Acho que a sua experiência pode me ajudar em alguns aspectos de problemas parecidos...
Talvez possa me dar alguns conselhos sobre como utilizou, etc
Pode sim. :)
 
Salve mestre @ExPoro! Tudo bem contigo amigo?!

Nesses meses de experiência com os cogumelos descobri que eles não viciam, mas que este Fórum aqui sim! kkkk. Gastei bastante tempo escrevendo meus próprios relatos e o meu diário de cultivo, lendo guias e outros diários e aí resolvi ler alguns relatos de outros usuários. Eis que me deparo com seu relato aqui. Fiquei impressionado cara! Quanta vivência!

Vou tirar um tempinho para ler com maiores detalhes sobre todo o trajeto que você publicou até aqui. Você se organizou muito bem em seu diário de psiconauta, hein?!

Ainda vou ler mais detalhes sobre seus traumas e suas experiências desde o afastamento do trabalho até aqui. Curiosamente, me sinto conectado com a sua experiência de alguma maneira. No final de 2019 e primeiros 3 meses de 2020, eu tive uma experiência profissional que me fez parar de funcionar como ser humano. Meu amigo, realmente fui despedaçado. Olhando para tudo o que se passou de lá até agora, me sinto grato. Graças a eu ter minhas estruturas quebradas, pude perceber o quanto eu estava me traindo a e vivendo uma vida de mentiras que eu contava para mim mesmo, só para me conformar com a minha educação. Depois de muita terapia e uso de antidepressivo por cerca de 1 ano e meio, acabei chegando aos cogumelos. E sinto que os cogumelos são uma nova etapa de muito aprendizado.

Obrigado por compartilhar sua história. É muito bonito ver que você atravessou esse período negro na sua vida e agora tem encontrado uma verdadeira cura para os seus males. Te desejo muito luz na sua caminhada cara. Engraçado ver como a vida tem dessas jornadas né? Não é nada agradável. Não vou romantizar o sofrimento, mas quando é possível atravessar a dor e chegar do outro lado mais forte, realmente é muito bonito.

Uma pergunta: você mencionou o uso religioso dos cogumelos. Você poderia elaborar um pouco mais(talvez via mensagem privada, se preferir)? Eu cresci numa família extremamente católica (não exagero quando uso a palavra extremamente, acredite). Nesses últimos 2 anos, a minha visão cristã sobre a vida acabou esfarelando junto com as minhas estruturas. Considerei que poderia ser ateu nesse período, mas minhas experiências com os cogumelos foram tão profundas que passei a reavaliar a realidade espiritual na minha vida. Acho que não consigo ter uma relação com um Deus pessoal como Javé/Jeová. Creio que estou me inclinando para uma intuição panteísta da realidade. Fiquei curioso quando vc mencionou o uso religioso dos cogumelos, porque eu sinto que eles são profundamente espirituais de fato. Tanto que todas as vezes sinto a necessidade de falar com eles antes de ingeri-los.

Bom, acabei falando demais neste comentário.

Um forte abraço pra ti cara!
 
Obrigado, amigo @Experimentalist. Fico emocionado de ver seu caminho como nos traz também, e feliz de que meus já quase 100 relatos possam lhe trazer também algo de bom. :)

Demorei pra responder pra falar direitinho.

Uma pergunta: você mencionou o uso religioso dos cogumelos. Você poderia elaborar um pouco mais(talvez via mensagem privada, se preferir)?

Então.

É religião, de fato, no conceito amplo dessa palavra. Enteogenia, no específico. Com prática baseada em cogumelos, ou psilocibina.

Minha explicação das relações entre mundo espiritual e mundo material são do kardecismo.

As entidades que trabalho são de Umbanda.

Por isso me declaro kardek-umbandista-enteogenista-cogumeleiro.

Ou, enteogenista pra simplificar rsrs.

...

Bem, é assim.

Em imersões essencialmente espirituais/religiosas, faço um preparo que visa a uma repetição litúrgica. Existe o sacramento (o cogumelo), o ritual em si (tomar e imergir) e os elementos do setting que formam a liturgia (aquilo que se repete nas diversas sessões com cogumelo para direcionar a mente ou criar um condicionamento pra reflexão espiritual ou religiosa).

Assim, minha liturgia em casa é basicamente o uso da música de Pink Floyd, que se torna então meu Hino Litúrgico. Ao som de Pink Floyd, com os anos de condicionamento, minha mente é mais capaz de se sentir confortável e de navegar por ondas mais reflexivas. Há uma inter-relação entre um condicionamento profundo de liturgia repetida e o quão mais longe você pode ir para tornar uma experiência espiritualmente útil.

Claro, às vezes uma variação (um local na natureza, uma experimentação sem som ambiente no meio da madrugada, ou outras mudanças de setting) podem levar a novos insights, novas percepções, ok, mas é tudo aleatório.

A "religiozização" de uma prática enteogênica envolve a ritualização com as etapas de uma liturgia. As fases da experiência religiosa devem ser repetidas, estabelecidas e evoluídas. Não é religião porque é enteogenia, e enteogenia engloba religião, sem ser por ela englobada nem com ela se confundir. Mas usar elementos de condicionamento ritualísticos aumentam o potencial de quem deseja ter com o cogu uma relação espiritual-religiosa, e não "apenas" espiritual.

...

O cogumelo é a origem da vida humana como a conhecemos, a interação com antepassados de 3 milhões de anos atrás, até pouco mais de 20 mil atrás, fez com que nosso cérebro evoluísse e alcançasse a percepção espiritual e também a linguagem. A "verdade" está no cogumelo, porque está em cada um de nós, e ele pode a fazer sobressaltar sobre seus olhos. O cogumelo bem compreendido lhe leva a ser melhor consigo mesmo, com os outros, e com o Universo. E isso não for o objetivo essencial dos fundadores bem-intencionados de cada religião, o que mais seria?

Expliquei acima como vejo as coisas, tenho base no livro "Alimentos dos Deuses" (Terrence MacKenna), é como vejo e base da justificativa biológica da minha religião sobre a sacralidade dos cogumelos e a importância da reinserção dele na Humanidade para seu progresso. O que já vemos ocorrer aos poucos com a psicodelia de cogumelos em crescimento no mundo todo.

...

E, assim, na minha visão, existem várias realidades espirituais. No sentido que, como a Terra, é um "planeta" só, mas dividido em países, territórios. Tem áreas espirituais dominadas por religiões que são dominantes nos seres encarnados daquele lugar do planeta. E costumo também assumir toda explicação religiosa de todas as pessoas como verdadeiras, desde que não conflitem com o que considero basilar no conhecimento científico, caso em que respeito sem opor nada.

...

Sobre seu quase-ateísmo... o cogumelo faz nascer o Deus interior. Isso dá a muitas pessoas uma sensação de que Deus-Deusa exterior não existe, quando uma coisa não anula a outra. Mas o cogumelo a cada um fala o que precisa. E o que ele direciona é a pessoa ser boa com as outras, consigo e com o mundo. E o que a pessoa precisa pensar pra ser alguém melhor, ela pensará.

Por isso, a enteogenia é a semente que, indo além das religiões, tende a matá-las pela raiz, retirando o poder do discurso da verdade dos clérigos e entregando o fruto proibido diretamente a cada um de nós. Que me desculpem os que discordam, mas outros enteogênicos podem criar "líderes", como Ayahuasca, mescalina, etc. Congregações. O cogumelo vai além. Ele é gregário no amor, segregário na dominação alheia. Não há comunidades isoladas no Brasil de tomadores de cogumelo. O cogumelo é o enteógeno supremo, libertador. A única verdade, caminho e vida é o que o cogumelo lhe faz pensar e que o tornará melhor como pessoa. Não há "mestre" fulano. Nem há "tal templo" a se manter. Nenhuma estrutura de poder se mantém com cogumelos, nem o poder religioso de iluminados, como ocorre com outras medicinas.

...

Não sei se consegui ser claro.

Mas o cogumelo é a fonte da conexão entre a carne humana e nosso espírito, em termos de seja lá qual organela ele ajudou a desenvolver no cérebro dos primatas que hoje nos faz perceber o mundo espiritual, ainda que de forma incipiente.
 
Última edição:
Muito bom dia meu amigo @ExPoro!

Obrigado por ter tirado um tempo para responder meu comentário! E obrigado por compartilhar um pouco da sua visão de mundo e sobre como você vive sua prática de uso dos cogumelos. Muito interessante mesmo.

Por isso me declaro kardek-umbandista-enteogenista-cogumeleiro.

Ou, enteogenista pra simplificar rsrs.

Rs adorei a explicação. Rótulos para descrever, não para prender. Como tinha comentado, eu fui muito preso a rótulos religiosos por anos e anos da minha vida. Depois que tive minha primeira experiência com os cogumelos lembro de ter me sentido meio "bobo" por ter me deixado levar por uma visão limitada por dogmas. E um pouco tolo por ter tentado descartar completamente a realidade espiritual apenas porque minha experiência numa religião organizada tinha sido frustrada. Talvez algumas religiões consigam tocar em pontos da verdade, mas não abraçá-la completamente. E aí é legal poder beber de fontes diferentes quando elas nos ajudam a melhorar e nos fazem bem.

Em imersões essencialmente espirituais/religiosas, faço um preparo que visa a uma repetição litúrgica. Existe o sacramento (o cogumelo), o ritual em si (tomar e imergir) e os elementos do setting que formam a liturgia (aquilo que se repete nas diversas sessões com cogumelo para direcionar a mente ou criar um condicionamento pra reflexão espiritual ou religiosa).

Muito legal isso. Eu tô só engatinhando nas minhas experiências e nos meus cultivos, mas desde o primeiro contato acabei criando um ritual próprio. São passos que eu sigo: preparação do ambiente, banho antes, roupas limpas e macias, escolha de uma trilha sonora, falar com os cogumelos quais são minhas intenções e os meus pedidos, comê-los e viajar.

Assim, minha liturgia em casa é basicamente o uso da música de Pink Floyd, que se torna então meu Hino Litúrgico. Ao som de Pink Floyd, com os anos de condicionamento, minha mente é mais capaz de se sentir confortável e de navegar por ondas mais reflexivas. Há uma inter-relação entre um condicionamento profundo de liturgia repetida e o quão mais longe você pode ir para tornar uma experiência espiritualmente útil.

Achei muito interessante o seu uso da música do Pink Floyd como liturgia. Legal mesmo. Vou ser sincero e confessar: não conhecia o trabalho da banda. Li algumas pessoas daqui do Fórum (incluindo você) comentando sobre o som deles e resolvi explorar a discografia deles na última semana. Que banda fabulosa cara! Ontem mesmo tirei um tempo pra F1 e coloquei um show deles de 94 pra rolar. É uma coisa assombrosa mesmo.

Sobre seu quase-ateísmo... o cogumelo faz nascer o Deus interior. Isso dá a muitas pessoas uma sensação de que Deus-Deusa exterior não existe, quando uma coisa não anula a outra. Mas o cogumelo a cada um fala o que precisa. E o que ele direciona é a pessoa ser boa com as outras, consigo e com o mundo. E o que a pessoa precisa pensar pra ser alguém melhor, ela pensará.

Pois é, eu não sei como eu descreveria o meu fenômeno espiritual desde que comecei a experimentar com o cogumelos. O nascimento de um Deus interior? Hmmm... acho que talvez algumas pessoas poderiam descrever desse jeito. A forma como eu descreveria é como se um novo tipo de consciência tivesse surgido. É uma noção muito forte de que estamos todos ligados como seres vivos e que as "fronteiras" que existem nos separando como indivíduos são uma ilusão. A ideia de continuidade tem ficado muito fixada na minha mente. Como por exemplo, a separação do dia e da noite é uma ilusão. A separação entre o sul e o norte é uma ilusão. Acho que de alguma forma isso se aplica à vida e isso faz com que ela seja divina. Me pergunto se haveria uma separação real entre Criação e Criador. Essa sensação acaba me fazendo não conseguir pensar num Deus como uma personalidade à parte da criação. Uma coisa eu digo: todas as minhas experiências até hoje tiveram um sentimento de amor muito profundo em algum ponto delas e isso é o que eu mais gosto no uso dos cogumelos.

Que me desculpem os que discordam, mas outros enteogênicos podem criar "líderes", como Ayahuasca, mescalina, etc. Congregações. O cogumelo vai além. Ele é gregário no amor, segregário na dominação alheia. Não há comunidades isoladas no Brasil de tomadores de cogumelo. O cogumelo é o enteógeno supremo, libertador. A única verdade, caminho e vida é o que o cogumelo lhe faz pensar e que o tornará melhor como pessoa. Não há "mestre" fulano. Nem há "tal templo" a se manter. Nenhuma estrutura de poder se mantém com cogumelos, nem o poder religioso de iluminados, como ocorre com outras medicinas.

Eu não me atreveria a falar sobre outras substâncias que eu não conheço, mas sobre os cogumelos, compartilho dessa impressão. Desde que eu conheci, não vejo necessidade de seguir líderes nem de liderar ninguém pra lugar algum. Acho impressionante como a experiência com o cogumelos quebraram um monte de complicação que eu tinha internalizado. Pelo menos, pra mim tem sido algo libertador.

Vou procurar pelo livro "Alimento dos Deuses", do Terrence MacKenna. Tinha ouvido falar dele antes e parece que é bem interessante.

Um forte abraço pra ti amigo!
 
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