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4º exp com Amanita Muscaria

Agricola

Cogumelo maduro
Membro Ativo
27/03/2009
154
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Bom, vamos la... é sempre difícil para mim tentar descrever uma experiência de amanita. Vou descrever minha quarta experiência, que ocorreu no inverno de 2009, inicio de agosto.

Esta também foi minha ultima experiencia, 2010 foi um ano bastante conturbado e elas não apareceram para mim. Amanitas são sabias e sabem o que fazem. Espero que este ano possa ocorrer uma quinta experiência.

Minha primeira exp com amanita foi quando tinha 16 anos. Na época não conhecia nada sobre enteógenos, e considerava maconheiro como bandido. Certo dia fui com um amigo para um sitio e la ele me mostrou um único chapéu de amanita seco. Falou o que era e sugeriu que comessemos. Na época, por ser um legítimo cabaço no assunto, fiquei com bastante apreensão, mas acabei comendo. Este chapéu ele havia conseguido com um outro amigo que havia lhe dado. De todas essas pessoas, nenhuma até então havia experimentado as vermelhinhas.

Nos invernos dos anos seguintes (2007 / 2008), procuramos seguidamente pelos fungos, jamais obtendo sucesso. Foi nesse período, que passei a me interessar mais por enteógenos, descobrindo a cannabis, os cubensis, entre outros. Em 2009, já desacreditados pela existencia da espécie (amanita), finalmente elas nos apareceram. Contei sobre essa história em outro tópico.

Após este encontro com as vermelhas, seguiram-se mais 3 experiencias. A terceira delas, é a que lhes relato agora:

Estavamos em 4 pessoas (amigos) e pegamos a estrada em direção a uma plantação de pinus. Destas 4 pessoas, um era um novato (vou chamar de novato para ficar mais facil distinguir, entretanto "novato" quer dizer que esta pessoa não conhecia amanitas). Este novato, ficou interessado em ter uma experiencia com amanitas depois que lhe relatei algumas coisas. Entretanto, tive antes de leva-lo diante do fungo em seu habitat natural, não sei porque, mas senti que devia fazer isso. Durante o percurso, um dos meus amigos que estava no banco de trás ingeriu um microponto de LSD. Depois de apresentar o novato aos frutos, cai a noite e nós voltamos para nossa cidade. Apanhei alguns amanitas secos em minha casa, um pote de mel e um litro de vodka. Seguimos para um sítio de um outro amigo que nao estava presente.

Dividi 3 doses bem servidas de pedaços secos de chapéu de amita. O nosso amigo que havia ingerido um LSD optou por não ingeri-las desta vez. Disse que ficaria para cuidar da gente caso fosse preciso. Instrui o novato a mascar os pedaços de amanita com mel, mastigar bastante até tritura-los bem e depois engolir junto de um gole da vodka.

Assim foi feito por mim e mais dois amigos (um sendo o novato). O outro, nos acompanhava. Após a ingestão, concentramo-nos cada um isolado em suas individualidades próprias. Passara-se meia hora e eu, por conhecer os "sintomas", sabia que a nausea logo seria invevitavel. Comecei a andar em circulos e a cantarolar. O nosso amigo novato me pediu o motivo de fazer aquilo. O questionei se ele estava com náuseas e o mesmo disse que não. Em seguida o expliquei que por eu ja conhecer os sintomas, sabia que logo logo iria se iniciar a luta contra o veneno. E que andar em circulos e cantarolar me auxiliava a induzir a alucinação, fornaçando-a a passar por cima do envenenamento e deixando-o em segundo plano.

Ficamos mais um monento no ambiente onde estavamos, uma casinha com uma churrasqueira, e seguimos para o meio de um potreiro (pasto). Caminhamos até duas árvores de pinus que se destacavam sozinhas em meio ao pasto, próximas a um córrego d'agua e com algumas pedras em suas sombras. Sombras essas causadas pela luz da lua, que brilhava cheia e fortemente no céu aberto do sudoeste paranaense.

Sentamos nas pedras, eu já estava muito nauseado, não sabendo se aguentaria continuar contendo as amanitas no estomago. Levantei para caminhar e senti o efeito do veneno bater forte em meu corpo. Os primeiros sinais do envenenamento são a náusea e a vertigem. Entretanto a vertigem é tão alta que induz a atividade da náusea. É como estar bebado elevado a 10º potência. A vertigem vai de você para o mundo.

Meu amigo novato não aguentou e vomitou. Eu e meu outro amigo nos contemos. Tentava eu de todas as maneiras induzir a ação psicoativa das amanitas, o envenenamento dava uma pesada sensação de morte e desolação. Como a dose dessa vez foi bastante alta, as amanitas não despertaram aquela energia física habitual que lhe possibilita realizar feitos incríveis, mas esmaram-nos por dentro, era como estar impludindo, sendo forçado ao solo e ao encolhimento.

Eis que então acontece algo inusitado. Meu outro amigo, o que não havia comido amanitas e estava a tarde sobre efeito de LSD, perde o seu celular em meio ao pasto. E para piorar, informa que o aparelho esta sem bateria. Eu poderia ignorar esse fato, mas não conseguia, sabia o quanto meu amigo havia de ficar perturbado com isso, sabia que ele nao iria parar de procurar enquanto não achasse. Comecei a ajudalo na procura. Engatinhava no pasto tateando toda a grama molhada, sem sucesso. Não sabia mais exatamente como me sentia a essa altura, sabia que aquela situação momentanea estava insuportavel. Aquela busca pelo aparelho associada ao envenamento e início de alucinação estava se tornando um túnel, onde cada vez eu me sentia entrando mais rapido e mais "...liso?" (rápido, sem atrito). Aquilo começou a se tornar uma Badtrip imensa, nem me interesava mais saber onde estavam meus outros amigos. Parece que nada havia além de perturbação, barulhos altos dentro de minha cabeça, gritos e dores. Por um momento percebi que a nausea havia ido embora, entretanto, eu precisava de uma solução para aquilo... para aquele maldito celular.

Eis que então, depois de o que me pareceu uma eterna procura, meu amigo encontra o aparelho e anuncia. - Achei... Achei!
Ele continuou a falar algumas coisas assim que anunciou o achado, virei em sua direção e o vi vindo pelo pasto com o aparelho em mãos e um sorriso alegre. Falava alguma coisa pois sua boca se mexia, mas eu não o ouvia, havia barulho demais nos meus ouvidos. Aquilo (o fato de ele achar o aparelho) foi tão aliviante, que me libertou de todos os males. Senti uma enorme alegria e bem-estar, senti uma liberdade e despreendimento. Cai para o lado encima de uma pedra e ali fiquei. Apaguei.

Meu outro amigo que havia comido as amanitas e não vomitado também estava apagado essas horas, os outros dois estavam dispertos. Meu corpo estava estirado sobre uma pedra, de braços abertos. Meus amigos que ficaram despertos alegaram posteriormente que meu olhos ficaram totalmente abertos e que independente do modo visual como eles tentassem obter alguma respota, eu não os via fazendo as palhaçadas em minhas frente.

Dentro de mim, após digamos "tocarem os sinos", entrei na já habitual realidade paralela da amanita. Descrevo-a como realidade paralela pois é assim que ela parece para mim. No início ela arranca-lhe do corpo e lhe arremessa em uma porta paralela do universo.. seu corpo fica e voce o ve de fora, se destanciando, o ve ficando distante.. A primeira ideia é de que acabou de morrer. E ao redor de seu caminho, tudo é muio rapido, tudo é muito intenso e real.

É como estar preso a um elastico e ser arremesado em algum vazio cheio de mistérios, agarrando-se a algo no momento em que o elastico esta esticado ao maximo e segurando-se la o maximo que conseguir sustentar, quando não aguentar mais, ser puxado devolta pelo mesmo. Atirado devolta ao corpo. Uma trip de amanita costuma ser cansativa e de grande profundidade. Sempre me sinto sendo arremessado em diversas direções.. Cada direção é totalmente unica em suas caraceteristicas.

Lembro de ter apagado, lembro de ter visto meu corpo de fora (em 3º pessoa, o que também é muito comum), lembro de começar a ver um outro universo. O mais interessante da amanita é que ela não lhe faz imaginar suas alucinações, mas sim ela lhe faz ver. Você sente que esta vendo com os olhos, sua consciencia abstrai-se, não revelando sua razão. Lembro que comecei a ver muitas folhas a principio, o que lembro é isso.. folhas e mais folhas... eu via suas texturas extenderem-se como terras distantes, suas marcas cresciam, alongavam-se.. se tornavam rios e corriam em suas terras, rios se tornavam vermelhos e logo eram veias pulsantes de todo um sistema vivo. Música era criada, tudo se relacionada... musica e movimento. A visão se afastava e o universo girava a milhares de quilometros por hora ao redor disso tudo, que continuava a se expandir e mudar de forma, as estruturas emergiam do solo, cresciam, retornavam ao solo, emergiam novamente.

Não consegui ficar mais agarrado do que isso e logo estava sendo arremesado novamente. Regresa-va pelo mesmo caminho, na velocidade da luz acredito, um forte barulho se iniciara novamente. Cai em meu corpo. Acordei... Mal podia ver, ou sentir qualquer coisa... sentei-me. O barulho era insurrecedor. Uma mistura de buzina com sinos e pratos de metal, de ferro, trilho e trem. Barulho em uma velocidade esmagadora.

Finalmente, agora sentado, balbuciava qualquer coisa para o meu amigo ao lado, que também havia comido as amanitas e agora estava tão acordado quanto eu. Por um momento me senti totalmente sóbrio, acordado e bem. Comecei a falar com esse meu amigo, meio admirado com os tipos de visões que acabara de presenciar.... Os outros dois amigos nossos, nao proferiram uma unica palavra.. observavam-nos em silencio, mas eu quase nao os via. Mais tarde, fiquei sabendo que essa conversa que tive com meu amigo também "amanitado" era proferida em palavras sem sentido, sons arcaicos, linguas distintas. Descobri que existe um nome para esse fenomeno (nome que não me lembro), que todo ser possui uma linguagem de comunicação primitiva e que os cogumelos geralmente lhe dispertam essas linguagens (até os PC). Entretanto, nós dois que haviamos ingerido os cogumelos, entendiamos o que "falavamos" um para o outro. Os outros nos olhavam abismados. Também me lembro de nesse exato momento pensar em como minha boca e voz não conseguiam expressar tudo que eu estava dizendo. Era estranho. Eu sentia e sabia que estava dizendo a imensidão de palavras que passava em minha conciência, mas sentia que meu corpo estava fazendo isso de maneira diferente.. de uma maneira que me gerava a duvida de estar ou não falando a coisa certa.

Meu amigo levantou-se e se espreguiçou. Fazia frio e ele estava com uma dificuldade tremenda para fexar os botões de seu casaco. De fato, eu duvido que ele estivesse com frio, apesar da noite fria. Parecia que queria fechar os botões pois não lhe agradava mante-los abertos. Pareceu começar a ter uma pequena luta bizarra com seus botões.

- Me ajudem a fechar isso daqui! - Falou para os outros, que começaram a ajuda-lo. Mas estavam dando muita risada.

Me coloquei de pé também e passei a observar a situação em meio a forte luz refletida pela lua. Então, novamente.. Fui arremessado. Não foi como sair do corpo dessa vez, mas sim ter alucinações visuais nítidas. Esse meu amigo que também havia comido os cogumelos, transformara-se em um livro gigante em minha frente, marrom e tão gordo quanto ele, engraçadamente gordo e vivo. Os outros, que tentavam ajuda-lo a fechar os botões do casaco, rapidamente apresentaram suas ações transformadas, assim como suas feições. Ambos pareciam folher o livro (que era meu outro amigo) insanamente.. Eu sabia que eles estavam a procura de uma página que continha uma informação em específico. Folheavam alucinadamente meu amigo livro, que emitia uma luz constante do interior de suas páginas, luz essa que iluminava o rosto de meus outros colegas e revelava suas feições insanas e estranhamente divertidas.

Eu, sentia-me excluido daquilo. Sentia-me invisível. Logo percebi que eu era a página que eles tanto procuravam. E o que eles procuravam estava em mim. Música começou a tocar novamente, barulhos e ruidos dispertaram também. Eu gritava para eles, mas não sei que sons saiam de minha boca.

- Não! - Eu gritava desesperado. - A informação está em mim! - Dizia para eles repetidamente. Novamento lembro de minha consciência sóbria despertando e alertando "Eles não estão entendendo o que você está falando".

Mas eles não me viam, então.. vendo que estavam folheando o livro, pensei em me inserir entre as páginas que eles ainda não haviam chegado. Assim, deslizei para dentro de meu amigo, acreditando eu ser uma pagina e ele um imenso livro. Na realidade, eu me atirei por trás dele, e cai rolando pelo leve barranco que estava ao nosso lado. Imagino o quanto isso pode ter sido bizarro para nosso amigos "sóbrios". Logo, no momento seguinte, estava novamente acordado e assustado com o que acabara de acontecer.. Sabia que logo o "guia", como costumo chamar a entidade da amanita que lhe conduz, voltaria e me arrastaria para outro lugar. Logo, olhei para um de meus amigos e disse espantado.

- Cara, eu pensei que dava para controlar as amanitas, mas acabo de descobrir que isso é impossível! - Já havia experimentado outras vezes, e inclusive dirigido um automovel por kilometros sobre o efeito, mas jamais havia imaginado que seria possível um despreendimento tão grande do corpo.

Seguido o ocorrido e novamente acordado, minha consciencia me desperta dos perigos da situação que eu poderia estar causando. Estavamos em uma propriedade particular a noite, que apesar de ser de um amigo, não tinhamos avisados que estariamos la. Informei a meu amigo sóbrio que precisavamos sair dali, que logo o dia amanheceria e algum colono nos encontraria ali em meio aos pastos do seu rebanho. Decidimos ir para outro lugar. Eu estava com o carro e dei as chaves para esse meu amigo sóbrio pilotar. Começamos a caminhar pelo pasto. A lua cheia clareava a grama como nunca, eramos facilmente visiveis como sombras. Por um momento pude sentir os efeitos físicos da amanita. Certamente estava me sentindo maior, e caminhar sob o pasto era como ser um gigante. Chegamos a um portão de madeira que teríamos de pular. Ao aproximar do portão, e tocar em sua altura, pude perceber que ele batia no alto de meu peito. Subi nele e ao estar em seu ponto mais alto, percebi que era como ser uma pessoa muito grande agaixada se segurando a um pedaço de madeira no chão. Lembro-me também de me ver em terceira pessoa, alguma imagem de trás, mostrando parte de meus ombros e cabeça na altura das árvores.
Pulei o portão e segui o caminho. Logo teríamos de passar por outro portão, porém esse possuia uma tranca que era facilmente aberta. Não olhei para tras em momento algum para ver se meus amigos me acompanhavam.
Cheguei ao outro portão e ao abrir a tranca, me assustei com o susto que o portão levou. De imediato logo pensei "Droga, assustei o portão!". "Droga", pensei novamente, num instante muito curto me veio muitas procupações por ter acordado o portão. Milhares de pensamentos como "ele vai encher o saco", "ele ira contar essa horrivel historia", "ele isso", "ele aquilo". De uma hora para a outra eu tinha um monte de conceitos já criados sobre o portão.
- Ande logo com isso, vai fugir as cabritas! - Gritava o portão na madrugada. - Vamos, vamos, mais rápido! Acordem, olhem para ele! Vejam como esta perturbado! - O tempo todo ele me apressava e fazia rimas com a finalidade de mostrar minha tamanha estupidez para os outros seres da fazenda.
Não lembro exatamente como se seguiu nossa conversa telepatica, mas sei que o portão me deu um baita de um esporro. Quando meus amigos passaram, fechei o portão rapidamente e sai praguejando. Estava realmente furioso com o portão, e isso parecia ser normal. Era interessante a ingenuidade como eu lidava com o fato. Era normal para mim o portão ter sua própria consciencia, ter suas falas, ter sua personalide. Não vi nenhuma cara ou boca no mesmo, mas ali era certo que havia algo, aquele portão não era apenas um portão.. ele possuia um papel fundamental em sua funcionalidade e utilização. O que considero como aprendizado nesta parte, é a amanita permitir ver claramente a relevancia das coisas e as relações, o entendimento é tão aprofundado e detalhado que é comum obter introspecções profundas desencadeadas pelas maiores banalidades consideradas na sobriedade.

Fechei o portão e sai furioso... meus amigos sóbrios encaminharam-se para a choupana onde estavamos antes para apanhar o mel e a vodka. Fui atrás deles, mas eles me falaram que eu estava muito barulhento, logo me dei conta de que estava entrando na choupana pelo pior lugar, por debaixa da lona que protegia as laterais da chuva. Percebendo minha estupidez por um breve tamanho de lucidez, fui para o carro. A porta do motorista estava aberta mas nao lembro de abri-la. A alguns metros da entrada do carro... Muitos "S"'s surgiram no meu camiho.. Eram S (esses) mas estavam virados na horizontal.. e havia muitos, formavam um caminho que ia até a porta do carro.. como um caminho de pedra, onde no lugar das pedras eram S's pretos com borda luminosa. Alguns eram listrados e lembravam zebras.. havia uma espécie de raiz, pelo/micélio que saia de cada um... era o unico caminho e logo me dei conta de estar adando por ele.. Logo percebi que esses S's eram escorregadios, deslizavam uns sobre os outros... e fui patinando enquanto eles escapavam como pedras soltas atrás de mim... ao pisar no ultimo S e ver esse também escorregar, percebi que havia pisado na verdade no degrau do carro, e em seguida, escorreguei. Cai de cabeça no banco do carro e fiquei ali de atravessado. Logo o carro pareceu adquirir uma imensidão sem tamanho.. eu nao destinguia mais as colunas das janelas, o interior do carro foi se tornando uma caverna com minhas caracteristicas. O mesmo "pelo, raiz, micélio" que se propagava dos S's começou a "crescer" pelo interior do carro, e logo percebi que isso tudo saia de mim.. que era o meio interagindo ali com minha presença... O que se segue disso esta um pouco apagado na memória.. lembro depois de estar no banco de tras do carro, alucinado, sentindo o "ar" como se fosse espuma.. eu podia ficar em qualquer posição e me sentia confortavel. Se sustenta-se meus braços erguidos, parecia que ficariam ali para sempre se fosse preciso, pois o ar não era gravitacional, era como uma esponja.

Estavamos em 4. O carro era meu mas eu nao podia dirigir. Instrui meus amigos sóbrios a deixar o carro em algum lugar, onde eu e um outro amigo ficariamos ali dentro do carro até passar os efeitos, eles podiam ir embora. Assim foi feito. Ficamos eu e um outro amigo no carro dormindo ou sei la, nessa hora eu estava tendo um monte de lapsos e tudo era uma confusão muito grande. Ficamos ali. Acordamos com o nascer do sol. Os efeitos haviam passado e muito ja. Ainda restava toda a sensação e um imenso vazio assolava a alma. Meu amigo fez uma boa observação e disse "Sinto como se meu espirito tivesse levado uma surra". De fato também considero a sensação bem parecida. Mas assemelho-a mais com um renascimento. Deixei meu amigo em sua casa e fui para a minha. Nos outros dois dias que se seguiram, ainda sentia alguns efeitos... ainda sentia algo vagando por dentro. Não conseguia pensar em nada, em falar nada... Segui-se uma grande pureza de espirito.

Essa quarta experiencia foi de grande aprendizado. Considero como um dos acontecimentos mais importantes de minha vida. Preparou-me para coisas que se refletem agora e também, sei disso, para muitas coisas que ainda estão a refletir. Por muito tempo o sabor e o cheiro da Amanita retornaram no paladar e no olfato. E as vezes ainda retorna. Sempre que isso acontece, o corpo reage de uma forma onde um calafrio é inevitavel, sempre acontece um leve momento de nausea também quando recordo do cheiro. Por algum tempo fiquei com medo de experimentar novamente. Com receio. Finalmente encontrei mais frutos, depois de quase dois anos. Estão secando nesse exato momento e espero que me propiciem uma 5º experiencia muito boa. Não utilizarei uma alta dose como da ultima vez. Não agora, no inicio da temporada.

Obrigado aos que até aqui leram. Obrigado pelo tempo e espero que esse relato possa ter sido esclarecedor para alguns.
 
Cara, que confusão mental!!! Será que esse desprendimento de Mente/Corpo se dá pelo veneno da Amanita, ou faz parte do efeito??? E o realçe das cores, acontecem também com a Amanita???? Fico curioso pois só tive experiências com PC's...

Ja aproveitando, sei que é dificil a comparação, mas como é mais ou menos Amanita vs Psilocybes???

Parabens pela sobrevivência da TRIP! foi forte hein???!!!
 
Cara, que confusão mental!!! Será que esse desprendimento de Mente/Corpo se dá pelo veneno da Amanita, ou faz parte do efeito??? E o realçe das cores, acontecem também com a Amanita???? Fico curioso pois só tive experiências com PC's...

Ja aproveitando, sei que é dificil a comparação, mas como é mais ou menos Amanita vs Psilocybes???

Parabens pela sobrevivência da TRIP! foi forte hein???!!!

O veneno também tem seu papel fundamental em causar alucinações... Ele quer lhe matar então é certo que lhe alucine, a maioria dos venenos fazem isso. Mas é muito dificil conseguir diferenciar o que é o veneno do que não é. Alguns efeitos fisicos são faceis, como a nausea e a vertigem. Mas os efeitos introspectivos são dificeis de comparar / definir. Ocorre realce de cores, mas não do mesmo modo. Com cubensis parece que é a sua visão própria que realça as cores das coisas, com amanita parece que as coisas realçam-se por si próprias. Mas ai elas estao em um outro universo. Sei la...
 
Show de trip hein :)

Eu tambem so tive trips com PCs,tenho um certo receio de Amanitas pelo fato de haver veneno em sua consistencia(e tambem pq aki na regiao nao tem amanitas)

Tambem gostaria de saber a diferença entre os PCs e os Amanitas,pois fiquei interessadissimo pelos Amanitas depois de ler a sua trip.
 
Que trip maravilhosa, me lembrou demais Alice no país das maravilhas....toda essa parte visual, coisas se transformando e adquirindo personalidade definida, fantastico mesmo. Sempre busquei por amanitas...inclusive entrei no CM por causa deles...e agora eles vieram até mim... :giggle:
 
Adorei a parte do portao emburrado haha.

É bem assim como me imagino a trip dos amanitas. Sempre tive receio de toma-los mas elas olham pra mim qdo eu vejo elas pelo bosque...
 
Caramba! que trip! Precisamos de mais relatos sobre amanita. Eu me comprometo a relatar aqui quando tiver minha primeira experiência, provavelmente nos próximos meses.
 
Caramba brother, que trip massa! kkkkk

O desprendimento do psicossoma(espirito) do soma(corpo) foi algo que eu fiquei surpreso em ter lido, já fiz prática de desdobramento astral há um tempo atrás e sei o quanto é muito confuso sair em uma realidade paralela (astral) e encontrar quase tudo do mesmo jeito com mudanças bem peculiares.

Fiz o desdobramento utilizando o mantra Faraon em um estado meditativo profundo (Theta)...

Parabéns, espero ter um trip assim
 
Bom, vamos la... é sempre difícil para mim tentar descrever uma experiência de amanita. Vou descrever minha quarta experiência, que ocorreu no inverno de 2009, inicio de agosto.

Esta também foi minha ultima experiencia, 2010 foi um ano bastante conturbado e elas não apareceram para mim. Amanitas são sabias e sabem o que fazem. Espero que este ano possa ocorrer uma quinta experiência.

Minha primeira exp com amanita foi quando tinha 16 anos. Na época não conhecia nada sobre enteógenos, e considerava maconheiro como bandido. Certo dia fui com um amigo para um sitio e la ele me mostrou um único chapéu de amanita seco. Falou o que era e sugeriu que comessemos. Na época, por ser um legítimo cabaço no assunto, fiquei com bastante apreensão, mas acabei comendo. Este chapéu ele havia conseguido com um outro amigo que havia lhe dado. De todas essas pessoas, nenhuma até então havia experimentado as vermelhinhas.

Nos invernos dos anos seguintes (2007 / 2008), procuramos seguidamente pelos fungos, jamais obtendo sucesso. Foi nesse período, que passei a me interessar mais por enteógenos, descobrindo a cannabis, os cubensis, entre outros. Em 2009, já desacreditados pela existencia da espécie (amanita), finalmente elas nos apareceram. Contei sobre essa história em outro tópico.

Após este encontro com as vermelhas, seguiram-se mais 3 experiencias. A terceira delas, é a que lhes relato agora:

Estavamos em 4 pessoas (amigos) e pegamos a estrada em direção a uma plantação de pinus. Destas 4 pessoas, um era um novato (vou chamar de novato para ficar mais facil distinguir, entretanto "novato" quer dizer que esta pessoa não conhecia amanitas). Este novato, ficou interessado em ter uma experiencia com amanitas depois que lhe relatei algumas coisas. Entretanto, tive antes de leva-lo diante do fungo em seu habitat natural, não sei porque, mas senti que devia fazer isso. Durante o percurso, um dos meus amigos que estava no banco de trás ingeriu um microponto de LSD. Depois de apresentar o novato aos frutos, cai a noite e nós voltamos para nossa cidade. Apanhei alguns amanitas secos em minha casa, um pote de mel e um litro de vodka. Seguimos para um sítio de um outro amigo que nao estava presente.

Dividi 3 doses bem servidas de pedaços secos de chapéu de amita. O nosso amigo que havia ingerido um LSD optou por não ingeri-las desta vez. Disse que ficaria para cuidar da gente caso fosse preciso. Instrui o novato a mascar os pedaços de amanita com mel, mastigar bastante até tritura-los bem e depois engolir junto de um gole da vodka.

Assim foi feito por mim e mais dois amigos (um sendo o novato). O outro, nos acompanhava. Após a ingestão, concentramo-nos cada um isolado em suas individualidades próprias. Passara-se meia hora e eu, por conhecer os "sintomas", sabia que a nausea logo seria invevitavel. Comecei a andar em circulos e a cantarolar. O nosso amigo novato me pediu o motivo de fazer aquilo. O questionei se ele estava com náuseas e o mesmo disse que não. Em seguida o expliquei que por eu ja conhecer os sintomas, sabia que logo logo iria se iniciar a luta contra o veneno. E que andar em circulos e cantarolar me auxiliava a induzir a alucinação, fornaçando-a a passar por cima do envenenamento e deixando-o em segundo plano.

Ficamos mais um monento no ambiente onde estavamos, uma casinha com uma churrasqueira, e seguimos para o meio de um potreiro (pasto). Caminhamos até duas árvores de pinus que se destacavam sozinhas em meio ao pasto, próximas a um córrego d'agua e com algumas pedras em suas sombras. Sombras essas causadas pela luz da lua, que brilhava cheia e fortemente no céu aberto do sudoeste paranaense.

Sentamos nas pedras, eu já estava muito nauseado, não sabendo se aguentaria continuar contendo as amanitas no estomago. Levantei para caminhar e senti o efeito do veneno bater forte em meu corpo. Os primeiros sinais do envenenamento são a náusea e a vertigem. Entretanto a vertigem é tão alta que induz a atividade da náusea. É como estar bebado elevado a 10º potência. A vertigem vai de você para o mundo.

Meu amigo novato não aguentou e vomitou. Eu e meu outro amigo nos contemos. Tentava eu de todas as maneiras induzir a ação psicoativa das amanitas, o envenenamento dava uma pesada sensação de morte e desolação. Como a dose dessa vez foi bastante alta, as amanitas não despertaram aquela energia física habitual que lhe possibilita realizar feitos incríveis, mas esmaram-nos por dentro, era como estar impludindo, sendo forçado ao solo e ao encolhimento.

Eis que então acontece algo inusitado. Meu outro amigo, o que não havia comido amanitas e estava a tarde sobre efeito de LSD, perde o seu celular em meio ao pasto. E para piorar, informa que o aparelho esta sem bateria. Eu poderia ignorar esse fato, mas não conseguia, sabia o quanto meu amigo havia de ficar perturbado com isso, sabia que ele nao iria parar de procurar enquanto não achasse. Comecei a ajudalo na procura. Engatinhava no pasto tateando toda a grama molhada, sem sucesso. Não sabia mais exatamente como me sentia a essa altura, sabia que aquela situação momentanea estava insuportavel. Aquela busca pelo aparelho associada ao envenamento e início de alucinação estava se tornando um túnel, onde cada vez eu me sentia entrando mais rapido e mais "...liso?" (rápido, sem atrito). Aquilo começou a se tornar uma Badtrip imensa, nem me interesava mais saber onde estavam meus outros amigos. Parece que nada havia além de perturbação, barulhos altos dentro de minha cabeça, gritos e dores. Por um momento percebi que a nausea havia ido embora, entretanto, eu precisava de uma solução para aquilo... para aquele maldito celular.

Eis que então, depois de o que me pareceu uma eterna procura, meu amigo encontra o aparelho e anuncia. - Achei... Achei!
Ele continuou a falar algumas coisas assim que anunciou o achado, virei em sua direção e o vi vindo pelo pasto com o aparelho em mãos e um sorriso alegre. Falava alguma coisa pois sua boca se mexia, mas eu não o ouvia, havia barulho demais nos meus ouvidos. Aquilo (o fato de ele achar o aparelho) foi tão aliviante, que me libertou de todos os males. Senti uma enorme alegria e bem-estar, senti uma liberdade e despreendimento. Cai para o lado encima de uma pedra e ali fiquei. Apaguei.

Meu outro amigo que havia comido as amanitas e não vomitado também estava apagado essas horas, os outros dois estavam dispertos. Meu corpo estava estirado sobre uma pedra, de braços abertos. Meus amigos que ficaram despertos alegaram posteriormente que meu olhos ficaram totalmente abertos e que independente do modo visual como eles tentassem obter alguma respota, eu não os via fazendo as palhaçadas em minhas frente.

Dentro de mim, após digamos "tocarem os sinos", entrei na já habitual realidade paralela da amanita. Descrevo-a como realidade paralela pois é assim que ela parece para mim. No início ela arranca-lhe do corpo e lhe arremessa em uma porta paralela do universo.. seu corpo fica e voce o ve de fora, se destanciando, o ve ficando distante.. A primeira ideia é de que acabou de morrer. E ao redor de seu caminho, tudo é muio rapido, tudo é muito intenso e real.

É como estar preso a um elastico e ser arremesado em algum vazio cheio de mistérios, agarrando-se a algo no momento em que o elastico esta esticado ao maximo e segurando-se la o maximo que conseguir sustentar, quando não aguentar mais, ser puxado devolta pelo mesmo. Atirado devolta ao corpo. Uma trip de amanita costuma ser cansativa e de grande profundidade. Sempre me sinto sendo arremessado em diversas direções.. Cada direção é totalmente unica em suas caraceteristicas.

Lembro de ter apagado, lembro de ter visto meu corpo de fora (em 3º pessoa, o que também é muito comum), lembro de começar a ver um outro universo. O mais interessante da amanita é que ela não lhe faz imaginar suas alucinações, mas sim ela lhe faz ver. Você sente que esta vendo com os olhos, sua consciencia abstrai-se, não revelando sua razão. Lembro que comecei a ver muitas folhas a principio, o que lembro é isso.. folhas e mais folhas... eu via suas texturas extenderem-se como terras distantes, suas marcas cresciam, alongavam-se.. se tornavam rios e corriam em suas terras, rios se tornavam vermelhos e logo eram veias pulsantes de todo um sistema vivo. Música era criada, tudo se relacionada... musica e movimento. A visão se afastava e o universo girava a milhares de quilometros por hora ao redor disso tudo, que continuava a se expandir e mudar de forma, as estruturas emergiam do solo, cresciam, retornavam ao solo, emergiam novamente.

Não consegui ficar mais agarrado do que isso e logo estava sendo arremesado novamente. Regresa-va pelo mesmo caminho, na velocidade da luz acredito, um forte barulho se iniciara novamente. Cai em meu corpo. Acordei... Mal podia ver, ou sentir qualquer coisa... sentei-me. O barulho era insurrecedor. Uma mistura de buzina com sinos e pratos de metal, de ferro, trilho e trem. Barulho em uma velocidade esmagadora.

Finalmente, agora sentado, balbuciava qualquer coisa para o meu amigo ao lado, que também havia comido as amanitas e agora estava tão acordado quanto eu. Por um momento me senti totalmente sóbrio, acordado e bem. Comecei a falar com esse meu amigo, meio admirado com os tipos de visões que acabara de presenciar.... Os outros dois amigos nossos, nao proferiram uma unica palavra.. observavam-nos em silencio, mas eu quase nao os via. Mais tarde, fiquei sabendo que essa conversa que tive com meu amigo também "amanitado" era proferida em palavras sem sentido, sons arcaicos, linguas distintas. Descobri que existe um nome para esse fenomeno (nome que não me lembro), que todo ser possui uma linguagem de comunicação primitiva e que os cogumelos geralmente lhe dispertam essas linguagens (até os PC). Entretanto, nós dois que haviamos ingerido os cogumelos, entendiamos o que "falavamos" um para o outro. Os outros nos olhavam abismados. Também me lembro de nesse exato momento pensar em como minha boca e voz não conseguiam expressar tudo que eu estava dizendo. Era estranho. Eu sentia e sabia que estava dizendo a imensidão de palavras que passava em minha conciência, mas sentia que meu corpo estava fazendo isso de maneira diferente.. de uma maneira que me gerava a duvida de estar ou não falando a coisa certa.

Meu amigo levantou-se e se espreguiçou. Fazia frio e ele estava com uma dificuldade tremenda para fexar os botões de seu casaco. De fato, eu duvido que ele estivesse com frio, apesar da noite fria. Parecia que queria fechar os botões pois não lhe agradava mante-los abertos. Pareceu começar a ter uma pequena luta bizarra com seus botões.

- Me ajudem a fechar isso daqui! - Falou para os outros, que começaram a ajuda-lo. Mas estavam dando muita risada.

Me coloquei de pé também e passei a observar a situação em meio a forte luz refletida pela lua. Então, novamente.. Fui arremessado. Não foi como sair do corpo dessa vez, mas sim ter alucinações visuais nítidas. Esse meu amigo que também havia comido os cogumelos, transformara-se em um livro gigante em minha frente, marrom e tão gordo quanto ele, engraçadamente gordo e vivo. Os outros, que tentavam ajuda-lo a fechar os botões do casaco, rapidamente apresentaram suas ações transformadas, assim como suas feições. Ambos pareciam folher o livro (que era meu outro amigo) insanamente.. Eu sabia que eles estavam a procura de uma página que continha uma informação em específico. Folheavam alucinadamente meu amigo livro, que emitia uma luz constante do interior de suas páginas, luz essa que iluminava o rosto de meus outros colegas e revelava suas feições insanas e estranhamente divertidas.

Eu, sentia-me excluido daquilo. Sentia-me invisível. Logo percebi que eu era a página que eles tanto procuravam. E o que eles procuravam estava em mim. Música começou a tocar novamente, barulhos e ruidos dispertaram também. Eu gritava para eles, mas não sei que sons saiam de minha boca.

- Não! - Eu gritava desesperado. - A informação está em mim! - Dizia para eles repetidamente. Novamento lembro de minha consciência sóbria despertando e alertando "Eles não estão entendendo o que você está falando".

Mas eles não me viam, então.. vendo que estavam folheando o livro, pensei em me inserir entre as páginas que eles ainda não haviam chegado. Assim, deslizei para dentro de meu amigo, acreditando eu ser uma pagina e ele um imenso livro. Na realidade, eu me atirei por trás dele, e cai rolando pelo leve barranco que estava ao nosso lado. Imagino o quanto isso pode ter sido bizarro para nosso amigos "sóbrios". Logo, no momento seguinte, estava novamente acordado e assustado com o que acabara de acontecer.. Sabia que logo o "guia", como costumo chamar a entidade da amanita que lhe conduz, voltaria e me arrastaria para outro lugar. Logo, olhei para um de meus amigos e disse espantado.

- Cara, eu pensei que dava para controlar as amanitas, mas acabo de descobrir que isso é impossível! - Já havia experimentado outras vezes, e inclusive dirigido um automovel por kilometros sobre o efeito, mas jamais havia imaginado que seria possível um despreendimento tão grande do corpo.

Seguido o ocorrido e novamente acordado, minha consciencia me desperta dos perigos da situação que eu poderia estar causando. Estavamos em uma propriedade particular a noite, que apesar de ser de um amigo, não tinhamos avisados que estariamos la. Informei a meu amigo sóbrio que precisavamos sair dali, que logo o dia amanheceria e algum colono nos encontraria ali em meio aos pastos do seu rebanho. Decidimos ir para outro lugar. Eu estava com o carro e dei as chaves para esse meu amigo sóbrio pilotar. Começamos a caminhar pelo pasto. A lua cheia clareava a grama como nunca, eramos facilmente visiveis como sombras. Por um momento pude sentir os efeitos físicos da amanita. Certamente estava me sentindo maior, e caminhar sob o pasto era como ser um gigante. Chegamos a um portão de madeira que teríamos de pular. Ao aproximar do portão, e tocar em sua altura, pude perceber que ele batia no alto de meu peito. Subi nele e ao estar em seu ponto mais alto, percebi que era como ser uma pessoa muito grande agaixada se segurando a um pedaço de madeira no chão. Lembro-me também de me ver em terceira pessoa, alguma imagem de trás, mostrando parte de meus ombros e cabeça na altura das árvores.
Pulei o portão e segui o caminho. Logo teríamos de passar por outro portão, porém esse possuia uma tranca que era facilmente aberta. Não olhei para tras em momento algum para ver se meus amigos me acompanhavam.
Cheguei ao outro portão e ao abrir a tranca, me assustei com o susto que o portão levou. De imediato logo pensei "Droga, assustei o portão!". "Droga", pensei novamente, num instante muito curto me veio muitas procupações por ter acordado o portão. Milhares de pensamentos como "ele vai encher o saco", "ele ira contar essa horrivel historia", "ele isso", "ele aquilo". De uma hora para a outra eu tinha um monte de conceitos já criados sobre o portão.
- Ande logo com isso, vai fugir as cabritas! - Gritava o portão na madrugada. - Vamos, vamos, mais rápido! Acordem, olhem para ele! Vejam como esta perturbado! - O tempo todo ele me apressava e fazia rimas com a finalidade de mostrar minha tamanha estupidez para os outros seres da fazenda.
Não lembro exatamente como se seguiu nossa conversa telepatica, mas sei que o portão me deu um baita de um esporro. Quando meus amigos passaram, fechei o portão rapidamente e sai praguejando. Estava realmente furioso com o portão, e isso parecia ser normal. Era interessante a ingenuidade como eu lidava com o fato. Era normal para mim o portão ter sua própria consciencia, ter suas falas, ter sua personalide. Não vi nenhuma cara ou boca no mesmo, mas ali era certo que havia algo, aquele portão não era apenas um portão.. ele possuia um papel fundamental em sua funcionalidade e utilização. O que considero como aprendizado nesta parte, é a amanita permitir ver claramente a relevancia das coisas e as relações, o entendimento é tão aprofundado e detalhado que é comum obter introspecções profundas desencadeadas pelas maiores banalidades consideradas na sobriedade.

Fechei o portão e sai furioso... meus amigos sóbrios encaminharam-se para a choupana onde estavamos antes para apanhar o mel e a vodka. Fui atrás deles, mas eles me falaram que eu estava muito barulhento, logo me dei conta de que estava entrando na choupana pelo pior lugar, por debaixa da lona que protegia as laterais da chuva. Percebendo minha estupidez por um breve tamanho de lucidez, fui para o carro. A porta do motorista estava aberta mas nao lembro de abri-la. A alguns metros da entrada do carro... Muitos "S"'s surgiram no meu camiho.. Eram S (esses) mas estavam virados na horizontal.. e havia muitos, formavam um caminho que ia até a porta do carro.. como um caminho de pedra, onde no lugar das pedras eram S's pretos com borda luminosa. Alguns eram listrados e lembravam zebras.. havia uma espécie de raiz, pelo/micélio que saia de cada um... era o unico caminho e logo me dei conta de estar adando por ele.. Logo percebi que esses S's eram escorregadios, deslizavam uns sobre os outros... e fui patinando enquanto eles escapavam como pedras soltas atrás de mim... ao pisar no ultimo S e ver esse também escorregar, percebi que havia pisado na verdade no degrau do carro, e em seguida, escorreguei. Cai de cabeça no banco do carro e fiquei ali de atravessado. Logo o carro pareceu adquirir uma imensidão sem tamanho.. eu nao destinguia mais as colunas das janelas, o interior do carro foi se tornando uma caverna com minhas caracteristicas. O mesmo "pelo, raiz, micélio" que se propagava dos S's começou a "crescer" pelo interior do carro, e logo percebi que isso tudo saia de mim.. que era o meio interagindo ali com minha presença... O que se segue disso esta um pouco apagado na memória.. lembro depois de estar no banco de tras do carro, alucinado, sentindo o "ar" como se fosse espuma.. eu podia ficar em qualquer posição e me sentia confortavel. Se sustenta-se meus braços erguidos, parecia que ficariam ali para sempre se fosse preciso, pois o ar não era gravitacional, era como uma esponja.

Estavamos em 4. O carro era meu mas eu nao podia dirigir. Instrui meus amigos sóbrios a deixar o carro em algum lugar, onde eu e um outro amigo ficariamos ali dentro do carro até passar os efeitos, eles podiam ir embora. Assim foi feito. Ficamos eu e um outro amigo no carro dormindo ou sei la, nessa hora eu estava tendo um monte de lapsos e tudo era uma confusão muito grande. Ficamos ali. Acordamos com o nascer do sol. Os efeitos haviam passado e muito ja. Ainda restava toda a sensação e um imenso vazio assolava a alma. Meu amigo fez uma boa observação e disse "Sinto como se meu espirito tivesse levado uma surra". De fato também considero a sensação bem parecida. Mas assemelho-a mais com um renascimento. Deixei meu amigo em sua casa e fui para a minha. Nos outros dois dias que se seguiram, ainda sentia alguns efeitos... ainda sentia algo vagando por dentro. Não conseguia pensar em nada, em falar nada... Segui-se uma grande pureza de espirito.

Essa quarta experiencia foi de grande aprendizado. Considero como um dos acontecimentos mais importantes de minha vida. Preparou-me para coisas que se refletem agora e também, sei disso, para muitas coisas que ainda estão a refletir. Por muito tempo o sabor e o cheiro da Amanita retornaram no paladar e no olfato. E as vezes ainda retorna. Sempre que isso acontece, o corpo reage de uma forma onde um calafrio é inevitavel, sempre acontece um leve momento de nausea também quando recordo do cheiro. Por algum tempo fiquei com medo de experimentar novamente. Com receio. Finalmente encontrei mais frutos, depois de quase dois anos. Estão secando nesse exato momento e espero que me propiciem uma 5º experiencia muito boa. Não utilizarei uma alta dose como da ultima vez. Não agora, no inicio da temporada.

Obrigado aos que até aqui leram. Obrigado pelo tempo e espero que esse relato possa ter sido esclarecedor para alguns.

Caraaaaaaaaaaaaaaaaaaaa que sensacional essa viajem!!! sério... deu um pouco de medo em algumas partes.... mas realmente enquanto eu lia sua história a única coisa que me veio na cabeça elucidado foi a Alice no pais das maravilhas.... Que mundo fantástico meus amigos!!! Trip Toppppp
 
Me lembrou um livro que eu li que se chama O terceiro tira, de Flann O´Brien. Ele narrando a história ficou bem parecido como a forma que vc descreveu a trip.
 
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