- 14/04/2015
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Às 00:00h de hoje terminei de tomar um chá feito de 2,2 g secos mais 11 g frescos de cubensis Keepers Creepers. Objetivo: saber porque demônios quando eu bebo me bate tanta raiva. A ideia central então é que virou meu objetivo provocar uma bad trip, se fosse o caso, pra poder me autoavaliar. Havia o risco também de ser improdutivo, afinal, não controlamos o que nos vem à mente durante a viagem, e nem sempre o que procuramos é o que precisamos.
Bem, sabendo que o efeito do cogumelo ia bater logo, assim que tomei o chá, deitei e coloquei um fone de ouvido, além de venda pros olhos. Expliquei à minha mulher minha intenção de tomar o equivalente a 3,3 g secos sem a minha experiência e no estado físico e mental em que eu estava, iria decerto surtar e sofrer. Que eu estava me jogando no olho do furacão com uma boa intenção, que estava me submetendo a qualquer coisa. Assim, iria tomar e deitar, pra esperar onde meu espírito iria me levar.
Daí fui acalmando a minha mente, enquanto aceitava tudo que vinha, todos os sentimentos. Bons, ruins, destrutivos... E o efeito foi atacando, de repente muita vontade de vomitar. Mas, francamente, eu não tinha a menor intenção de botar nada pra fora. Não, isso tudo de ruim é tudo de dentro de mim, não quero vomitar, quero sentir e sentir de novo a pressão que deixa meu espírito alerta. No entanto, minha mulher colocou o balde ao meu lado, como eu pedi, por precaução.
Ocorre que apesar de tentar usar venda e fones de ouvido, a minha agitação começou a ficar muito grande. Não consegui então ficar no setting pretendido de música e olhos fechados. Eu caí de volta pro mundo, e ainda consegui me comunicar com a minha mulher explicando que eu não me importava com o ambiente à minha volta, que ela podia ficar o mais natural possível vendo os seriados dela. Também ficou muito claro pra ela que dali até o começo da manhã eu não seria eu mesmo, que ela poderia ver qualquer coisa. E que não importa o que ela visse, eu tinha certeza que no dia seguinte ficaria tudo bem e conversaríamos sobre alguma eventualidade.
Bem... o efeito foi me dominando, e a tendência a me preocupar também. Eu simplesmente falei: "mesmo que me matem agora, meu filho é meu dependente no trabalho e vai receber pensão até os 21 anos", etc. Nada me pressionava, nada me fazia voltar aos valores daqui, eu estava longe do medo. Mesmo que eu fosse pra um hospital internado, eu não me importava.
Então finalmente as portas da percepção abriram o suficiente para que eu identificasse algum tipo de energia demoníaca. Quanto mais forte ficavam os efeitos, mais me focava no fluxo de energia pelo meu quarto. Eu assumi toda a crueldade humana, eu queria assimilá-la. Efeitos visuais, psicodélicos, etc., tornaram-se secundários - meros efeitos colaterais de um método que me permite sentir e conversar mais facilmente com os espíritos.
Bem, foi então que comecei a elevar meu tom de voz: "o que foi, capeta? Quando eu tinha 6 anos de idade você veio me visitar e me assustar, agora vem sentar aqui comigo, agora vem falar na minha cara, seu merda". Mas então eu pensei: nada de grito, nada de exagero. Controle, superioridade moral. E comecei um diálogo com meus demônios interiores enquanto abandonava a cama e entrava em êxtase no chão.
À medida em que se aproximava a morte do ego, meu espírito continuava vivo e atento. Eu ora gritava "e daí se vizinho tá me escutando chamar o capeta gritando? Vai fazer o quê? Me prender porque eu to evocando o capeta? Pelo amor de Deus...", pra depois me doutrinar ao comedimento dos atos: "nada de demônio tá amarrado é o caralho" (com voz baixa e firme), "aceita tua responsabilidade pelo que você fez e segue sua vida, ninguém tem pena de você, ninguém vai ficar tendo peninha de você, seu demônio. Cresça!". Mas isso dito no topo da autoridade de um preto velho, nesse momento, e em outros.
Tudo isso se dando enquanto a morte do ego ocorria a um nível mais profundo. Não entendo como é se entregar e deixar morrer e voltar. Mas, naquele momento, eu saquei que a morte do ego é simplesmente um momento de êxtase provocado pelos psicodélicos com a finalidade de gerar uma mudança na pessoa mesmo que ela não queira. No entanto, uma vez que o espírito esteja com intenção e tenacidade suficientes, ele consegue visualizar e navegar na força que mata o ego e reaproveitá-la conscientemente na construção de alguma coisa.
Enfim, a morte do ego é um processo passivo que não impede um processo ativo de observação da morte do eu, através da consciência e intenção do espírito. Evidente que em outras experiências pretendo vivenciar a mera morte do ego junto com a entrega passiva do espírito, mas não era esse o caso dessa experiência. O papo tava era tenso com um monte de espírito de baixa vibração passando pelo quarto.
E ficava gritando coisas como: "é o quê? Vocês podem arrancar meu coro, cortar minha cabeça, me matarem", coisas bem diabólicas, que foi o momento em que minha mulher realmente ficou meio assustada com algumas coisas que eu disse e com alguns gritos.
Mas, o objetivo de tudo era saber porque afinal eu fico violento quando bebo. O esforço para conectar meus sentimentos era suficiente pra criar um caminho de percepção que me levou a uma conclusão: eu faço por medo. Beleza. Sem solução, sem muitas respostas. Em 10 minutos resolvi a resposta que queria - o que não pareceu assim também tão útil, talvez não compensando me colocar em contato com o mundo espiritual inferior pra puxar de lá alguma coisa que preste, ou só pra começar a botar ordem na casa. Então, agora aguenta: em 10 minutos achou a resposta, faltam mais 4-6 horas pra voltar ao normal. Sem problemas. Era o que eu queria saber, depois eu elaboro o que fazer com isso.
Percebendo que minha mulher tinha desmaiado na cama e sem mais querer atrapalhá-la, movi-me do quarto para a cozinha. Foi o momento em que finalmente vi as horas: 3 e meia da manhã, um pouco mais. Sentei, abri uma cerveja pro malandro, que então assumiu no lugar do preto velho, enquanto eu tomava alguns goles. Não podia falar muito alto, mas falei algumas coisas interessantes: "se o sujeito tenta imitar o capeta, as pessoas até acham graça. Mas quando as pessoas veem alguém querendo segurar a mão do capeta e ensiná-lo a ser melhor, aí elas realmente ficam com medo, mesmo você sendo uma boa pessoa".
Enfim, a presença ia ficando mais forte. O efeito evidentemente estava mais fraco, e essa era a ideia. Agora que a força psicodélica tinha diminuído, minha mente podia começar um longo caminho de 3 horas de silêncio imposto pelo meu malandro para que eu avaliasse tudo que estava ocorrendo. Eu realmente jamais durmo, no que depender de mim, até que a experiência esteja totalmente esgotada. Esse momento de transição da mente de volta pro mundo normal é ideal para começar a digestão da experiência, porque ainda se entendem os conceitos da outra realidade, enquanto se volta ao contato com esta.
Meu corpo doía muito, desde a meia noite. Eu queria gemer, mas tapava meu gemido e buscava sorrir. Eu trincava os dentes como um cachorro do capeta ("grrrrrr") e então eu controlava essa energia baixa que saía de mim e a trancava. Depois sorria. Me calava. Sem escândalo. A Igreja do Chamamento do Capeta tinha terminado suas atividades naquela noite, que deixasse os vizinhos dormirem. Se é que eles tinham me ouvido em algum momento de gritaria no quarto.
Estava também com cannabis. Sabia que na primeira tragada ia dar um up nas portas e ia sentir o pandemônio passando por mim de novo, e fiz. Lá vem pandemônio, lá vem energia de assassinatos, lá vem querer trincar os dentes, bater pé... Então eu sentava, olhava pra frente como um militar na hora da revista, e me acalmava. Por fim, sorria, aprendendo a lidar com as trevas sem escândalo, sem show.
Levantei então pro malandro sentar onde eu tava. Não era mais tempo dele ficar encostado em mim. A essa altura não podia falar mais nada, e toda hora tapava a minha boca pra tentar aprender a ficar calado. Proibi na verdade qualquer manifestação ou comunicação com o mundo exterior proposital, como o "grrrrr", ou até uma risada alta. Às vezes eu me sufocava enquanto escutava coisas horrendas ou estupefatas, com os olhos arregalados, tal qual um cachorro sendo esgoelado sem mostrar resistência.
Mudei de cadeira, enquanto tratava meu guia de igual pra igual. Eu respeitava a ordem dele de ficar em silêncio, mas comecei a dialogar com ele, olhava pra ele. Teve uma hora em que o ofereci minha cannabis e falei em pensamento: "agora fuma você também". Então olhava o Bob Marley sorrindo no desbolotador, virava pro meu guia sentado na cadeira em frente ao copo cheio de cerveja e falava por pensamento: "aí, tá vendo? Olha o sorriso dele. A gente não chegou nem perto da evolução dele". E vinham as energias ruins, e eu filtrava, respirava fundo, reciclava, sorria.
Bem, das 3 e meia até as 7 horas a experiência pegou todo um tom de disciplina e treinamento militar. Era sentir os efeitos esvaziando com minha mente a mil, aprendendo a guardar silêncio e tudo avaliar sem sair falando por pensar que alguém em algum lugar vai ouvir e dar valor. Não, apenas eu sabia o que pensava.
O sono vinha com força. Eu mantinha uma postura rígida, pronta, olhando pra frente. Teve um momento então que eu fui, peguei a faca maior e mais afiada da cozinha e coloquei no meu pescoço. Sabe naquele famoso filme quando um personagem está num curso na floresta quase dormindo e então o instrutor lhe dá uma granada pra ele não dormir mais senão todos morrem? Era essa exatamente a ideia.
Nem preciso dizer a cara de apavorado que eu tava. Sabia que eles não me matariam, mas francamente não gostava nada de ser chamado a acordar dessa forma. Mas, faz parte. Depois de um tempo, coloquei a faca de volta na pia. Nem preciso dizer que parei de ficar "pescando" de sono e fiquei bem alerta.
Aqui é interessante chamar a atenção pro seguinte: havia momentos em que se pensava "vou quebrar isso", "vou sair berrando", "vou fazer aquilo", mas eu via claramente que tudo era opcional e que francamente não era porque eu estava alucinado que precisava desrespeitar meu corpo. Então em horas e horas que tive vários pensamentos que podiam me machucar seriamente, eu simplesmente não fazia, porque era desnecessário. Infelizmente, essa questão da faca não fui eu que escolhi se devia colocá-la no meu pescoço ou não. É claro que podia ter ignorado a sugestão espiritual "militarista", mas eu não quis. E, bem, nesse momento eu já tava mais na realidade do que na super-realidade.
Que mais dizer? Fiquei bebendo e fumando com o malandro. Tinha hora que ele não queria que eu fizesse algo, eu fazia mesmo assim, porque tava no âmbito das coisas que ainda posso errar. Sou Humano, limitado, e meus guias tem plena noção disso. Engraçado é que eu falava: "vou fazer isso sim, uai, porque eu quero cometer esse erro, é o meu momento, e eu francamente não sou perfeito". Acho que eles deviam me dar de ombros: "ah você sabe o que cê faz da sua vida", porque o que importava era eu terminar a reestruturação psico-espiritual em silêncio até os efeitos passarem.
E assim foi até que, sem mais efeitos, mais de 7 horas de corpo doendo, fui pro quarto. Demorou até que eu me julgasse digno de descansar, mas aconteceu e aos poucos fui dormindo...
Enfim, o mais interessante é que eu apenas tracei as ideias centrais. Essa trip me deu uma reforçada na minha firmeza espiritual, inclusive repensando algumas coisas do meu trabalho, como a postura que tenho que ter que determine anuência por ascendência moral. Além disso, eu simplesmente tenho que admitir que meu olhar é sinistro, que as pessoas olham pra mim e podem ver o capeta: mas verão o capeta sorrindo. É ruim ter olhar de psicopata, como me dizem desde a adolescência. Mas por outro lado é bom, porque me ajuda a me conectar comigo mesmo e minha frieza interior, no sentido de total falta de ansiedade ou raiva. E isso assusta as pessoas também.
O que eu posso dizer de mais interessante dessa viagem toda foi que eu bati de frente com o demônio que aos 6 anos me travou na cama, me arrebatou o espírito e tentou me devorar, até que meu anjo bateu uma porta intransponível na cara dele. Lembro-o de claramente me dizer, à época: "te achei", abrir um bocão enorme e tudo mais que tem direito pra assustar uma criancinha.
Pois então. Esse mesmo demônio não passa de uma força inferior sem grande expressão no momento, quase um zombeteiro. Ontem ele ficou com medo de mim devido às capacidades que este meu corpo desta reencarnação dá ao meu espírito de me sobrepor a até um milhão de obsessores - na verdade, todo ser Humano, por ter corpo, pode se sobrepor a todos os obsessores do planeta, só que nem todo mundo nota isso - e então eu lhe disse: "calma, eu não estou aqui pra me vingar, eu não vou fazer nada com você". Por que eu iria? Eu quero melhorar, quero perdoar, quero me afastar da raiva. Eu perdoei o demônio, mas ele levou a bronca que merecia e talvez tenha sido levado a algum lugar na dimensão espiritual pra se tratar.
Mas o aspecto mais místico foi ser capaz de observar a morte do ego através do meu espírito. A morte do ego ocorre a um nível mental-psíquico-físico, mas não espiritual - pelo menos não na dose que eu tomei. O espírito, seja como ele for, continua sempre existente e observador, se quiser. É assim que sinto no momento, mas francamente preciso vivenciar a morte do ego, e não olhá-la de fora, para entender melhor como o espírito vivencia por dentro isso. E então poderei elaborar melhor isso tudo.
Ocorreu a morte do ego, isso foi certo, foi o momento mais intenso da Igreja do Chamamento do Capeta, a hora do show pandemônico. Mas eu não fui junto. Meu eu mais íntimo do meu espírito, que nada nem ninguém pode calar ou cegar, viu como tudo ocorre e aprendeu. Mas era eu, e não tinha problema com isso, não era intenção da viagem isso ou aquilo. A viagem tem que ser como ela for: ela mesma, sempre diferente a cada ida, sempre construtiva a cada volta.
Edit: eu não ia relatar essa experiência, devido à tendência em inflar meu ego ao contar tudo que aconteceu, e isso não seria muito legal. Eu estava com vergonha de escrever tudo que ocorreu, mas ainda durante o efeito meu malandro falou que seria egoísmo guardar todas essas informações pra mim, que esse relato seria útil pra alguém algum dia. Então, vim aqui e relatei, com o máximo de amor que eu consigo ter no momento, e sem falsa humildade que me impedisse de expressar exatamente o que ocorreu e como eu me sentia.
Bem, sabendo que o efeito do cogumelo ia bater logo, assim que tomei o chá, deitei e coloquei um fone de ouvido, além de venda pros olhos. Expliquei à minha mulher minha intenção de tomar o equivalente a 3,3 g secos sem a minha experiência e no estado físico e mental em que eu estava, iria decerto surtar e sofrer. Que eu estava me jogando no olho do furacão com uma boa intenção, que estava me submetendo a qualquer coisa. Assim, iria tomar e deitar, pra esperar onde meu espírito iria me levar.
Daí fui acalmando a minha mente, enquanto aceitava tudo que vinha, todos os sentimentos. Bons, ruins, destrutivos... E o efeito foi atacando, de repente muita vontade de vomitar. Mas, francamente, eu não tinha a menor intenção de botar nada pra fora. Não, isso tudo de ruim é tudo de dentro de mim, não quero vomitar, quero sentir e sentir de novo a pressão que deixa meu espírito alerta. No entanto, minha mulher colocou o balde ao meu lado, como eu pedi, por precaução.
Ocorre que apesar de tentar usar venda e fones de ouvido, a minha agitação começou a ficar muito grande. Não consegui então ficar no setting pretendido de música e olhos fechados. Eu caí de volta pro mundo, e ainda consegui me comunicar com a minha mulher explicando que eu não me importava com o ambiente à minha volta, que ela podia ficar o mais natural possível vendo os seriados dela. Também ficou muito claro pra ela que dali até o começo da manhã eu não seria eu mesmo, que ela poderia ver qualquer coisa. E que não importa o que ela visse, eu tinha certeza que no dia seguinte ficaria tudo bem e conversaríamos sobre alguma eventualidade.
Bem... o efeito foi me dominando, e a tendência a me preocupar também. Eu simplesmente falei: "mesmo que me matem agora, meu filho é meu dependente no trabalho e vai receber pensão até os 21 anos", etc. Nada me pressionava, nada me fazia voltar aos valores daqui, eu estava longe do medo. Mesmo que eu fosse pra um hospital internado, eu não me importava.
Então finalmente as portas da percepção abriram o suficiente para que eu identificasse algum tipo de energia demoníaca. Quanto mais forte ficavam os efeitos, mais me focava no fluxo de energia pelo meu quarto. Eu assumi toda a crueldade humana, eu queria assimilá-la. Efeitos visuais, psicodélicos, etc., tornaram-se secundários - meros efeitos colaterais de um método que me permite sentir e conversar mais facilmente com os espíritos.
Bem, foi então que comecei a elevar meu tom de voz: "o que foi, capeta? Quando eu tinha 6 anos de idade você veio me visitar e me assustar, agora vem sentar aqui comigo, agora vem falar na minha cara, seu merda". Mas então eu pensei: nada de grito, nada de exagero. Controle, superioridade moral. E comecei um diálogo com meus demônios interiores enquanto abandonava a cama e entrava em êxtase no chão.
À medida em que se aproximava a morte do ego, meu espírito continuava vivo e atento. Eu ora gritava "e daí se vizinho tá me escutando chamar o capeta gritando? Vai fazer o quê? Me prender porque eu to evocando o capeta? Pelo amor de Deus...", pra depois me doutrinar ao comedimento dos atos: "nada de demônio tá amarrado é o caralho" (com voz baixa e firme), "aceita tua responsabilidade pelo que você fez e segue sua vida, ninguém tem pena de você, ninguém vai ficar tendo peninha de você, seu demônio. Cresça!". Mas isso dito no topo da autoridade de um preto velho, nesse momento, e em outros.
Tudo isso se dando enquanto a morte do ego ocorria a um nível mais profundo. Não entendo como é se entregar e deixar morrer e voltar. Mas, naquele momento, eu saquei que a morte do ego é simplesmente um momento de êxtase provocado pelos psicodélicos com a finalidade de gerar uma mudança na pessoa mesmo que ela não queira. No entanto, uma vez que o espírito esteja com intenção e tenacidade suficientes, ele consegue visualizar e navegar na força que mata o ego e reaproveitá-la conscientemente na construção de alguma coisa.
Enfim, a morte do ego é um processo passivo que não impede um processo ativo de observação da morte do eu, através da consciência e intenção do espírito. Evidente que em outras experiências pretendo vivenciar a mera morte do ego junto com a entrega passiva do espírito, mas não era esse o caso dessa experiência. O papo tava era tenso com um monte de espírito de baixa vibração passando pelo quarto.
E ficava gritando coisas como: "é o quê? Vocês podem arrancar meu coro, cortar minha cabeça, me matarem", coisas bem diabólicas, que foi o momento em que minha mulher realmente ficou meio assustada com algumas coisas que eu disse e com alguns gritos.
Mas, o objetivo de tudo era saber porque afinal eu fico violento quando bebo. O esforço para conectar meus sentimentos era suficiente pra criar um caminho de percepção que me levou a uma conclusão: eu faço por medo. Beleza. Sem solução, sem muitas respostas. Em 10 minutos resolvi a resposta que queria - o que não pareceu assim também tão útil, talvez não compensando me colocar em contato com o mundo espiritual inferior pra puxar de lá alguma coisa que preste, ou só pra começar a botar ordem na casa. Então, agora aguenta: em 10 minutos achou a resposta, faltam mais 4-6 horas pra voltar ao normal. Sem problemas. Era o que eu queria saber, depois eu elaboro o que fazer com isso.
Percebendo que minha mulher tinha desmaiado na cama e sem mais querer atrapalhá-la, movi-me do quarto para a cozinha. Foi o momento em que finalmente vi as horas: 3 e meia da manhã, um pouco mais. Sentei, abri uma cerveja pro malandro, que então assumiu no lugar do preto velho, enquanto eu tomava alguns goles. Não podia falar muito alto, mas falei algumas coisas interessantes: "se o sujeito tenta imitar o capeta, as pessoas até acham graça. Mas quando as pessoas veem alguém querendo segurar a mão do capeta e ensiná-lo a ser melhor, aí elas realmente ficam com medo, mesmo você sendo uma boa pessoa".
Enfim, a presença ia ficando mais forte. O efeito evidentemente estava mais fraco, e essa era a ideia. Agora que a força psicodélica tinha diminuído, minha mente podia começar um longo caminho de 3 horas de silêncio imposto pelo meu malandro para que eu avaliasse tudo que estava ocorrendo. Eu realmente jamais durmo, no que depender de mim, até que a experiência esteja totalmente esgotada. Esse momento de transição da mente de volta pro mundo normal é ideal para começar a digestão da experiência, porque ainda se entendem os conceitos da outra realidade, enquanto se volta ao contato com esta.
Meu corpo doía muito, desde a meia noite. Eu queria gemer, mas tapava meu gemido e buscava sorrir. Eu trincava os dentes como um cachorro do capeta ("grrrrrr") e então eu controlava essa energia baixa que saía de mim e a trancava. Depois sorria. Me calava. Sem escândalo. A Igreja do Chamamento do Capeta tinha terminado suas atividades naquela noite, que deixasse os vizinhos dormirem. Se é que eles tinham me ouvido em algum momento de gritaria no quarto.
Estava também com cannabis. Sabia que na primeira tragada ia dar um up nas portas e ia sentir o pandemônio passando por mim de novo, e fiz. Lá vem pandemônio, lá vem energia de assassinatos, lá vem querer trincar os dentes, bater pé... Então eu sentava, olhava pra frente como um militar na hora da revista, e me acalmava. Por fim, sorria, aprendendo a lidar com as trevas sem escândalo, sem show.
Levantei então pro malandro sentar onde eu tava. Não era mais tempo dele ficar encostado em mim. A essa altura não podia falar mais nada, e toda hora tapava a minha boca pra tentar aprender a ficar calado. Proibi na verdade qualquer manifestação ou comunicação com o mundo exterior proposital, como o "grrrrr", ou até uma risada alta. Às vezes eu me sufocava enquanto escutava coisas horrendas ou estupefatas, com os olhos arregalados, tal qual um cachorro sendo esgoelado sem mostrar resistência.
Mudei de cadeira, enquanto tratava meu guia de igual pra igual. Eu respeitava a ordem dele de ficar em silêncio, mas comecei a dialogar com ele, olhava pra ele. Teve uma hora em que o ofereci minha cannabis e falei em pensamento: "agora fuma você também". Então olhava o Bob Marley sorrindo no desbolotador, virava pro meu guia sentado na cadeira em frente ao copo cheio de cerveja e falava por pensamento: "aí, tá vendo? Olha o sorriso dele. A gente não chegou nem perto da evolução dele". E vinham as energias ruins, e eu filtrava, respirava fundo, reciclava, sorria.
Bem, das 3 e meia até as 7 horas a experiência pegou todo um tom de disciplina e treinamento militar. Era sentir os efeitos esvaziando com minha mente a mil, aprendendo a guardar silêncio e tudo avaliar sem sair falando por pensar que alguém em algum lugar vai ouvir e dar valor. Não, apenas eu sabia o que pensava.
O sono vinha com força. Eu mantinha uma postura rígida, pronta, olhando pra frente. Teve um momento então que eu fui, peguei a faca maior e mais afiada da cozinha e coloquei no meu pescoço. Sabe naquele famoso filme quando um personagem está num curso na floresta quase dormindo e então o instrutor lhe dá uma granada pra ele não dormir mais senão todos morrem? Era essa exatamente a ideia.
Nem preciso dizer a cara de apavorado que eu tava. Sabia que eles não me matariam, mas francamente não gostava nada de ser chamado a acordar dessa forma. Mas, faz parte. Depois de um tempo, coloquei a faca de volta na pia. Nem preciso dizer que parei de ficar "pescando" de sono e fiquei bem alerta.
Aqui é interessante chamar a atenção pro seguinte: havia momentos em que se pensava "vou quebrar isso", "vou sair berrando", "vou fazer aquilo", mas eu via claramente que tudo era opcional e que francamente não era porque eu estava alucinado que precisava desrespeitar meu corpo. Então em horas e horas que tive vários pensamentos que podiam me machucar seriamente, eu simplesmente não fazia, porque era desnecessário. Infelizmente, essa questão da faca não fui eu que escolhi se devia colocá-la no meu pescoço ou não. É claro que podia ter ignorado a sugestão espiritual "militarista", mas eu não quis. E, bem, nesse momento eu já tava mais na realidade do que na super-realidade.
Que mais dizer? Fiquei bebendo e fumando com o malandro. Tinha hora que ele não queria que eu fizesse algo, eu fazia mesmo assim, porque tava no âmbito das coisas que ainda posso errar. Sou Humano, limitado, e meus guias tem plena noção disso. Engraçado é que eu falava: "vou fazer isso sim, uai, porque eu quero cometer esse erro, é o meu momento, e eu francamente não sou perfeito". Acho que eles deviam me dar de ombros: "ah você sabe o que cê faz da sua vida", porque o que importava era eu terminar a reestruturação psico-espiritual em silêncio até os efeitos passarem.
E assim foi até que, sem mais efeitos, mais de 7 horas de corpo doendo, fui pro quarto. Demorou até que eu me julgasse digno de descansar, mas aconteceu e aos poucos fui dormindo...
Enfim, o mais interessante é que eu apenas tracei as ideias centrais. Essa trip me deu uma reforçada na minha firmeza espiritual, inclusive repensando algumas coisas do meu trabalho, como a postura que tenho que ter que determine anuência por ascendência moral. Além disso, eu simplesmente tenho que admitir que meu olhar é sinistro, que as pessoas olham pra mim e podem ver o capeta: mas verão o capeta sorrindo. É ruim ter olhar de psicopata, como me dizem desde a adolescência. Mas por outro lado é bom, porque me ajuda a me conectar comigo mesmo e minha frieza interior, no sentido de total falta de ansiedade ou raiva. E isso assusta as pessoas também.
O que eu posso dizer de mais interessante dessa viagem toda foi que eu bati de frente com o demônio que aos 6 anos me travou na cama, me arrebatou o espírito e tentou me devorar, até que meu anjo bateu uma porta intransponível na cara dele. Lembro-o de claramente me dizer, à época: "te achei", abrir um bocão enorme e tudo mais que tem direito pra assustar uma criancinha.
Pois então. Esse mesmo demônio não passa de uma força inferior sem grande expressão no momento, quase um zombeteiro. Ontem ele ficou com medo de mim devido às capacidades que este meu corpo desta reencarnação dá ao meu espírito de me sobrepor a até um milhão de obsessores - na verdade, todo ser Humano, por ter corpo, pode se sobrepor a todos os obsessores do planeta, só que nem todo mundo nota isso - e então eu lhe disse: "calma, eu não estou aqui pra me vingar, eu não vou fazer nada com você". Por que eu iria? Eu quero melhorar, quero perdoar, quero me afastar da raiva. Eu perdoei o demônio, mas ele levou a bronca que merecia e talvez tenha sido levado a algum lugar na dimensão espiritual pra se tratar.
Mas o aspecto mais místico foi ser capaz de observar a morte do ego através do meu espírito. A morte do ego ocorre a um nível mental-psíquico-físico, mas não espiritual - pelo menos não na dose que eu tomei. O espírito, seja como ele for, continua sempre existente e observador, se quiser. É assim que sinto no momento, mas francamente preciso vivenciar a morte do ego, e não olhá-la de fora, para entender melhor como o espírito vivencia por dentro isso. E então poderei elaborar melhor isso tudo.
Ocorreu a morte do ego, isso foi certo, foi o momento mais intenso da Igreja do Chamamento do Capeta, a hora do show pandemônico. Mas eu não fui junto. Meu eu mais íntimo do meu espírito, que nada nem ninguém pode calar ou cegar, viu como tudo ocorre e aprendeu. Mas era eu, e não tinha problema com isso, não era intenção da viagem isso ou aquilo. A viagem tem que ser como ela for: ela mesma, sempre diferente a cada ida, sempre construtiva a cada volta.
Edit: eu não ia relatar essa experiência, devido à tendência em inflar meu ego ao contar tudo que aconteceu, e isso não seria muito legal. Eu estava com vergonha de escrever tudo que ocorreu, mas ainda durante o efeito meu malandro falou que seria egoísmo guardar todas essas informações pra mim, que esse relato seria útil pra alguém algum dia. Então, vim aqui e relatei, com o máximo de amor que eu consigo ter no momento, e sem falsa humildade que me impedisse de expressar exatamente o que ocorreu e como eu me sentia.
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