Cultivo de Psilocybe azurescens e Psilocybe cyanescens - Técnica do papelão

Instruções para cultivo de cogumelos azurescens e cyanescens, dois dos mais potentes cogumelos que muitas vezes são preferidos por viajantes "veteranos" que tentaram vários tipos diferentes de cogumelos.

:teo_apontar_direita: Visão geral do procedimento


Para se desenvolver cogumelos, um substrato adequado deve ser inoculado pelo fungo. Esse passo requer esterilidade porque o substrato não contém defesas e pode ser contaminado por bactérias e bolores que estão presentes no ambiente. O primeiro passo consiste em preparar os frascos para a cultura na sua cozinha. São usados serragem de madeira dura e arroz ou farelo de trigo, ambos fáceis de encontrar. O substrato é preparado, colocado nos frascos e esterilizados com calor. Após os frascos esfriarem, eles são inoculados com uma seringa de esporos. Após a inoculação espera-se o micélio colonizar todo o substrato, tritura-se o substrato em pequenos pedaços e usam-se esses pedaços para iniciar o desenvolvimento de micélio em pedaços úmidos de papelão enrugado (ondulado). Enquanto se espera essa colonização ocorrer, nenhum esforço é requerido. Após a colonização se completar, o papelão é coberto com lascas de madeira maple ou carvalho [eucalipto aqui no Brasil, encontradas em lojas de jardinagem e grandes supermercados], permitindo que o micélio as colonize. Uma vez que as toras estejam colonizadas, a temperatura é diminuída para induzir a frutificação.

:teo_apontar_direita: Preparação do substrato e berçário


Materiais necessários:

  • Frascos de 250 ml
  • Serragem de madeira dura
  • Arroz integral ou farelo de trigo
  • Vermiculita
  • Panela grande com tampa ou panela de pressão
  • Copos de medida
  • Tigela
  • Martelo e prego pequeno
  • Bandeja funda de plástico
  • Papelão enrugado
  • Lascas de madeira
  • Lysol
  • Seringa de esporos

Passo 1


Prepare as tampas dos frascos de cultura. Parte da razão pela qual esse sistema funciona tão bem no ambiente não-estéril que é a cozinha, é o fato do substrato esterilizado nunca ser exposto aos contaminantes presentes no ar. Pegue um prego pequeno e faça quatro furos na tampa de cada frasco.

Passo 2


Decida quantos frascos você utilizará para iniciar as culturas. Diferente do P. cubensis, o número de frascos que você preparar não dita quantos cogumelos você terá no final; somente quanto tempo levará para obtê-los.

Para cada frasco de 250 ml serão necessários:
  • 3/4 de serragem
  • 1/4 de farelo de trigo
Ponha a serragem numa tigela grande e encha com água. Deixe descansar por 24 horas para que a serragem absorva o máximo de água possível. Drene toda a água e misture bem o farelo de trigo. Esta mistura é o substrato que será usado para o desenvolvimento micelial.

Passo 3


Encha cada frasco com o substrato até faltar 1-1,5 cm do topo. Não comprima o substrato, simplesmente deixe-o cair dentro dos frascos. Tenha certeza de que o substrato esteja a uma altura suficiente que o permita ser inoculado pela seringa.

Passo 4


Limpe o topo (o espaço deixado sem substrato) do copo com Lysol e retire qualquer pedaço de substrato.

Passo 5


Encha o espaço vazio com vermiculita. Essa camada é pura e simplesmente vermiculita seca, nada mais. Encha até a borda do frasco. O que essa camada faz é isolar o substrato esterilizado de contaminações provindas do ar e ao mesmo tempo permite que uma troca de ar ocorra. O fungo necessita de oxigênio e gases podem ser filtrados pela vermiculita.

Passo 6


Ponha as tampas nos frascos. Feche bem. Note que você precisa ter os quatro buracos na tampa (Passo 1), de outra forma você terá sérios problemas ao esquentar esses frascos!

Passo 7


Ponha um pedaço de papel alumínio sobre o topo de cada frasco e dobre pelos lados do frasco (como na PF Tek). Isto servirá para manter gotas de água longe dos quatro buracos da tampa enquanto o frasco é esterilizado. Se precisar, pode-se adicionar uma segunda ou terceira camada para ter certeza de que as gotas não entrarão pelos buracos.

Passo 8


Agora as culturas precisam ser esterilizadas numa panela cheia d`água ou na panela de pressão. Se for usar a de pressão, deixe os frascos à 15 psi por 90 minutos. Se for usar panela comum siga estas instruções:

Ponha os frascos numa panela grande e adicione água até a metade dos frascos. Traga a água para uma fervura branda e ponha a tampa na panela. Do momento que a água começar a ferver deixe por mais 3 horas. A água não deve estar borbulhando e respingando por tudo quanto é canto. Os frascos não devem flutuar na água. O substrato já possui a quantidade de água correta e você não vai querer que a água invada os frascos e altere a proporção. Muito calor pode ser transferido diretamente para os frascos e causa perda de umidade. Pode-se pôr um pano dentro da panela por baixo dos frascos prevenindo que essa perda ocorra.

Passo 9


Deixe os frascos esfriarem completamente na panela utilizada para a esterilização. Eles precisam estar próximos da temperatura ambiente para serem inoculados. Os esporos serão mortos se os frascos não esfriarem suficientemente quando for feita a inoculação. Vai levar várias horas para esfriar o suficiente, sendo melhor deixar eles esfriarem durante a noite. Podem-se ouvir sons enquanto os frascos esfriam - é normal.

Passo 10


Agora vem a parte boa: a inoculação dos frascos. Assumindo que você tenha uma seringa de esporos esterilizada e viável, você está pronto para inocular as culturas e começar a primeira fase do ciclo de desenvolvimento. A agulha da seringa deve ser esterilizada. Se seus dedos ou qualquer coisa sem ser a tampa dos frascos entrar em contato com ela, ela não estará mais esterilizada. Se houver dúvidas quanto a isso, use um isqueiro para aquecer toda a agulha. Aqueça até ela ficar em brasa, deixe esfriar por alguns segundos e esguiche um pouco da solução.

Agite a seringa. Tenha certeza de que os esporos estão bem dispersos na seringa. Isso é mais fácil de fazer se houver um pouco de ar dentro da seringa.

Remova o papel alumínio de cada frasco quando você for inocular eles. Insira a agulha ao máximo nos buracos e injete a solução contra o vidro. A quantidade de solução que você vai injetar depende do número de frascos que você tem para inocular. Se você tiver cinco frascos então você vai querer usar 0,5 cc de solução para cada buraco (0,5 cc x 4 buracos x 5 frascos = 10 cc).

Passo 11


Esta é a parte mais fácil. Ponha os frascos num local escuro e aguarde. O fungo vai aparecer primeiro como pequenas penugens brancas nos locais de inoculação. À medida que o tempo passar, o fungo se espalhará pelo frasco. Eventualmente, toda a superfície do frasco será colonizada pelo fungo. É típico o fundo do frasco ser a última área a colonizar. Fique atento às contaminações. Quaisquer cores estranhas que podem aparecer são contaminações e o frasco deve ser descartado. Algumas bactérias e bolores produzem toxinas que podem ser letais. O fato de um cogumelo estar nascendo no lado oposto ao da contaminação num bolo não significa que você está seguro. A rede micelial carrega nutrientes e umidade para os cogumelos a qualquer distância e pode facilmente levar toxinas de contaminantes para os cogumelos. O fato de você estar utilizando este guia significa que você não é um micologista experiente. Você não sabe quais bolores e bactérias são letais!

A única exceção para a instrução anterior é que o micélio às vezes muda de um branco brilhante para um amarelo pálido se ele possui gotas de água tocando-o nos lados do frasco. É muito incomum para qualquer área que está colonizada se tornar infectada enquanto dentro do frasco. As áreas não-colonizadas são significativamente mais propensas a contaminar.

Se seus esporos estão velhos, ou a temperatura não está ótima, ou você não misturou bem o substrato, você pode adicionar uma semana para os processo se completar.

O bolo deve ficar no frasco até pelo menos duas semanas depois que toda a superfície estiver colonizada. Isto é para se ter certeza que o micélio penetrou o bastante no substrato. À medida que o substrato fica mais colonizado, o crescimento desacelera, resultado do aumento de CO2 e diminuição de oxigênio disponível para o fungo consumir.

Passo 12


Duas semanas após a superfície do substrato ter colonizado, deve-se começar a preparar o berçário. Ele consiste de um pedaço de papelão enrugado (ondulado) que será completamente colonizado pelo fungo. Você vai precisar de uma bandeja plástica funda o suficiente. Corte o papelão de um tamanho que sobre 2,5 cm de espaço em cada lado quando você o puser dentro da bandeja. Ponha o papelão na bandeja e encha ela com água. Deixe descansar por uma noite para que o papelão absorva o máximo d'água possível.

Passo 13


Após o papelão estar suficientemente ensopado, você pode remover os bolos dos frascos. Remova a tampa dos frascos. Limpe toda a vermiculita solta no topo do substrato. Vire o frasco de cabeça para baixo e bata no fundo para o bolo soltar. Os bolos vão se contrair durante a colonização e sairão dos frascos facilmente com algumas batidinhas no fundo dos frascos.

Passo 14


Agora você terá que cortar os bolos em pequenos pedaços do tamanho de bolas de gude. Você pode fazer isto com uma faca, mas é mais fácil com um multiprocessador de cozinha. Tente manter a contaminação ao mínimo. Esterilize com fogo a faca ou a lâmina do multiprocessador e use uma área de trabalho relativamente livre de correntes de ar. Borrife Lysol generosamente, mas lembre-se que ele é inflamável. Cuidado!

Passo 15


Pegue o papelão e retire o excesso d'água. Espalhe os pedaços de substrato igualmente sobre o fundo da bandeja e ponha o papelão em cima. Cubra a bandeja com filme plástico, deixando ele solto, para que a maioria da umidade permaneça e haja alguma troca gasosa.

Uma semana depois ou mais você notará que o micélio está colonizando o papelão. Quando o papelão estiver completamente coberto com micélio, passe para o próximo passo.

Passo 16


Ponha as lascas de madeira sobre o papelão a uma profundidade de 5 cm. Em breve você notará que o micélio colonizou as lascas. Quando parecerem totalmente colonizadas pelo micélio é hora de induzir a frutificação.

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Fotos do Mycotopia (link)​

:teo_apontar_direita: Frutificando


P. azurescens e cyanescens requerem temperatura em cerca de 10°C para frutificar, então se você quiser cogumelos terá que arrumar um modo de baixar a temperatura. A melhor forma para fazer isso é planejar seu ciclo de desenvolvimento de forma que na hora de frutificar a temperatura externa esteja próxima a 10°C por pelo menos 12 horas no dia. Se você não pode fazer isso, use a geladeira.

Visto que 10°C é uma temperatura significativamente alta para conservar alimentos, a melhor coisa a se fazer é ter um refrigerador dedicado onde você possa deixar em 10°C sem se preocupar com o apodrecimento de alimentos. Já que isso é bem difícil, você terá que improvisar.

A temperatura da geladeira varia geralmente entre 2°C e 4°C. Aumente o termostato para cerca de 5°C a 6°C. Isso vai resultar em um bom equilíbrio entre refrigeração dos alimentos (provavelmente não se notará diferença na conservação dos alimentos) e o habitat dos cogumelos (eles frutificarão bem a 6°C, porém mais devagar). Seja qual for a temperatura, se você está mantendo cogumelos no escuro total e numa temperatura abaixo da ideal, assegure-se de tirar eles por algumas horas por dia do refrigerador para permitir que eles se aqueçam e peguem um pouco de luz.

Em pouco tempo você notará pequenas protuberâncias escuras se formando no substrato. Elas crescerão no período de vários dias. Em pouco tempo você as reconhecerá como cogumelos. Espere que eles cresçam o suficiente, segure suas bases e puxe. Parabéns! Você cultivou cogumelos P. azurescens ou P. cyanescens!

:teo_apontar_direita: Fotos


Psilocybe azurescens:

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Fotos do Shroomery (link)​

Psilocybe cyanescens:

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Fotos do Shroomery (link)​